Por Mídia Ninja -
Se pairavam dúvidas sobre o fascismo existente no atentando da última
sexta-feira (17) na Universidade de Brasília (UnB), elas acabam de ser
elucidadas: nossa reportagem teve acesso aos diálogos do grupo criado no
WhatsApp intitulado inicialmente como “Invasão CA Sociologia” para
articular a dissimulada “manifestação”. As conversas explicitam as
táticas e meios — como bombas, taser, spray de pimenta e canos de PVC
“disfarçados” de bandeira — a serem utilizados para espalhar o terror e a
violência. O objetivo do grupo é desmascarado nos diálogos em que
revelam disputas políticas, violência física, chacina e intimidação dos
estudantes e professores da universidade, além de preconceitos como
homofobia, machismo, racismo e discursos de ódio contra a esquerda. Há
ainda ameaças criminosas de espancamento a alvos específicos.
No dia do atentado circulou a
informação de que o objetivo do grupo era promover uma confusão no
Centro Acadêmico de Sociologia. Um dos envolvidos chegou a enviar uma
foto para o grupo em que aparece com uma besta (arma com aparência de
espingarda equipada com um arco de flechas acionado por um gatilho)
perguntando se poderia levar o armamento. Na legenda, lê-se “guardado
com carinho aos comunas”. Os participantes demonstram simpatia ao
Deputado Federal Jair Bolsonaro (PSC/RJ) — réu no Supremo Tribunal
Federal (STF) por incitação ao crime de estupro — e, inclusive, afirmam
que o parlamentar tem conhecimento de quase todos os acontecimentos do
gênero.
Vale lembrar que não é a primeira vez que o nome do deputado em
questão está relacionado a crimes do tipo. Em 2013, uma ação penal
movida pelo Ministério Público condenou três indivíduos de Belo
Horizonte por crimes de apologia ao nazismo e intolerância racial. Em
meio aos pertences apreendidos, constava uma carta escrita por Jair
Bolsonaro.
Embora a pauta utilizada
para a mobilização fosse um ato pela liberdade de expressão e pela
Escola Sem Partido, o discurso predominante foi o da violência e
opressão aos chamados comunistas e esquerdistas. Um dos envolvidos
menciona que se houvesse violência, desmantelaria o movimento [da
esquerda] a ponto de muita gente abandoná-lo “com medo de dar merda”.
Justificam constantemente a utilização do aparato repressor como
prevenção ao possível ataque que poderiam sofrer, seja ele verbal ou
físico. Apesar de afirmarem na mesma frequência que os “adversários
políticos” são “frouxos e covardes” e que revidariam as provocações
somente com palavras de ordem e cuspes.
Combinam provocações para ser o
estopim das agressões, explicando a premeditação do atentado. “Se eles
me chamarem de fascista eu vou pegar o primeiro que tiver cabelo grande
já pelos cabelos, tacar no chão e tacar um pisão na cabeça (…) A gente
tem que chega já nos berro e se possível já pegando e dando um tapão na
cara de um”. Promete um agressor. Durante a ação, os extremistas
chegaram a explodir duas bombas, ameaçar estudantes com uma arma de
choque (Taser) e difamar de maneira homofóbica.
O grupo que arquitetou e
colaborou com a “invasão” é formado por ex-alunos, servidores públicos,
profissionais liberais e ativistas conservadores, liberais e da extrema
direita, com a conivência de membros da universidade, entre eles, uma
aluna que se denominou como presidente do Distrito Liberal (DL) e se
apresentou como “ponte” de diálogo entre o Instituto Liberal do
Centro-Oeste (ILCO) e os demais envolvidos na ação. Percebeu-se a
necessidade de ter universitários integrando a ação para que a mesma
tivesse legitimidade. Porém, houve conflito entre os movimentos aliados,
onde, em determinado momento, os integrantes da universidade se
afastaram do grupo por discordâncias com a violência vinculada às suas
respectivas imagens como mostra um dos argumentos: “Gostaria muito de
pedir a todos vocês que estão organizando uma manifestação na UnB, que
parem de querer arrumar confusão. Porque isso vai ficar muito feio pro
nosso lado (…) Eu não concordo com nenhum tipo de violência, isso vai
manchar os nossos nomes e principalmente o meu ali dentro, já que sou
líder de um movimento estudantil liberal dentro da UnB (…) Se forem
partir pra ataques e agressões, não façam isso na UnB. Já pararam pra
pensar que é muito melhor que eles fiquem com fama de violentos e
inescrupulosos?
Que eles que são os agressores raivosos?”. Entretanto,
os membros da universidade que se afastaram, mesmo tendo conhecimento da
data, horário e o tipo da ação, não reportaram sobre o atentado. A
impressão deixada é a de maior preocupação com o palanque político na
preservação de alianças úteis, do que com a integridade física da
comunidade acadêmica.
A ação de sexta-feira contou
com cerca de dezoito pessoas e não foi a primeira protagonizada por
membros do grupo. Nos diálogos há citações a atividades anteriores, como
o lançamento do livro “A Resistência ao Golpe de 2016”, ocorrida no
Beijódromo da universidade — em que comemoram o fato de oito fascistas
terem enfrentado 1.500 estudantes. Outras ações visando a violência em
outros estados também são orquestradas e incentivadas pelo grupo [sendo
citado Rio de Janeiro e Bahia]. Após cobertura da Mídia NINJA sobre o
atentado com ampla repercussão nacional negativa, parte do grupo se
mostrou temerosa.
Contactaram juristas e advogados, evitaram entrevistas
à imprensa, compraram a veiculação de nota oficial em defesa do grupo
[por R$2.900,00 reais] em jornal local, acionaram as redes sociais de
direita para auxiliar na defesa, se questionaram e destruíram o chat do
grupo, embora tenham reforçado a participação em outros grupos e a
vontade em continuarem juntos. Conscientes de terem agido fora da lei,
um deles afirma: “se sair um print daqui, vai todo mundo pra cadeia”.
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