Adjetivo diz respeito a circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos importância do que crenças pessoais
Em 2015, a palavra escolhida foi um emoji - mais especificamente, aquela carinha amarela que chora de tanto rir.
Além de eleger o termo, a instituição definiu o que é a “pós-verdade”: um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.
A palavra é usada por quem avalia que a verdade está perdendo importância no debate político. Por exemplo: o boato amplamente divulgado de que o Papa Francisco apoiava a candidatura de Donald Trump não vale menos do que as fontes confiáveis que negaram esta história.
Segundo a Oxford Dictionaries, o termo “pós-verdade” com a definição atual foi usado pela primeira vez em 1992 pelo dramaturgo sérvio-americano Steve Tesich. Ele tem sido empregado com alguma constância há cerca de uma década, mas houve um pico de uso da palavra, que cresceu 2.000% em 2016.
“‘Pós-verdade’ deixou de ser um termo periférico para se tornar central no comentário político, agora frequentemente usado por grandes publicações sem a necessidade de esclarecimento ou definição em suas manchetes”, escreve a entidade no texto no qual apresenta a palavra escolhida.
“Dado que o uso do termo [pós-verdade] não mostrou nenhum sinal de desaceleração, eu não ficaria surpreso se ‘pós-verdade’ se tornasse uma das palavras definidoras dos nossos tempos”Segundo a Oxford Dictionairies, a palavra vem sendo empregada em análises sobre dois importantes acontecimentos políticos: a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos e o referendo que decidiu pela saída da Grã-Bretanha da União Europeia, apelidada de “Brexit”.
Ambas as campanhas fizeram uso indiscriminado de mentiras, como a de que a permanência na União Europeia custava à Grã Bretanha US$ 470 milhões por semana no caso do Brexit, ou de que Barack Obama é fundador do Estado Islâmico no caso da eleição de Trump.
Em um artigo publicado em setembro de 2016, a influente revista britânica “The Economist” destaca que políticos sempre mentiram, mas Donald Trump atingiu um outro patamar.
A leitura de muitos acadêmicos e da mídia tradicional é que as mentiras fizeram parte de uma bem sucedida estratégia de apelar a preconceitos e radicalizar posicionamentos do eleitorado. Apesar de claramente infundadas, denunciar essas informações como falsas não bastou para mudar o voto majoritário.
Para diversos veículos de imprensa, a proliferação de boatos no Facebook e a forma como o feed de notícias funciona foram decisivos para que informações falsas tivessem alcance e legitimidade. Este e outros motivos têm sido apontados para explicar ascensão da pós-verdade.
Raiva e frustração
Em
um artigo publicado em setembro de 2016 no qual aborda a ‘pós-verdade’,
a ‘The Economist’ aponta a frustração de parte do eleitorado com
instituições tradicionais que fizeram diagnósticos falhos ou falsos.
‘Eles fazem troça de tecnocratas que trabalham em proveito próprio e que
disseram que o euro melhoraria suas vidas e Saddam Hussein tinha armas
de destruição em massa’
Novas mídias
Plataformas
como Facebook, Twitter e Whatsapp favorecem a replicação de boatos e
mentiras. Grande parte dos factóides são compartilhados por conhecidos
nos quais os usuários têm confiança, o que aumenta a aparência de
legitimidade das histórias. Os algoritmos utilizados pelo Facebook fazem
com que usuários tendam a receber informações que corroboram seu ponto
de vista, formando bolhas que isolam as narrativas às quais aderem de questionamentos à esquerda ou à direita
Menos espaço para imprensa
A
imprensa, que é tradicionalmente responsável por checar os fatos e
construir narrativas baseadas na realidade, tem tido obstáculos para
disputar espaço nas redes sociais. Em junho, o Facebook alterou seu
algoritmo de forma a diminuir o alcance de postagens de sites noticiosos
e privilegiar o de amigos e familiares.
Em paralelo, a imprensa que
checa fatos antes de publicá-los compete por espaço com uma ampla gama
de veículos de informações falsas. Um site com um bom design pode bastar
para convencer um leitor da veracidade de uma informação
O que o Facebook tem feito após as críticas
A empresa seguiu o mesmo caminho do Google, que já havia determinado que sites que divulgam informações inverídicas serão proibidos de usar o Google AdSense, sistema de remuneração por anúncios.
Os críticos à maneira como o Facebook se organiza, no entanto, dizem que são necessárias outras medidas. O site Vox, por exemplo, defende que a rede social mantenha uma equipe editorial qualificada para avaliar e classificar os conteúdos noticiosos. A revista “Business Insider” recomenda que ele faça a classificação de conteúdos como o Google, dando mais peso para veículos relevantes ou verificados.
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