Por Fernando Brito, Tijolaço -
Não fui o único a perceber a providencial conjunção de uma nova onda de denúncias contra Eduardo Cunha – que tem malfeitos suficientes para tantas ondas quanto as tem um oceano – e o providencial favor que seria a Michel Temer o extermínio político do presidente afastado da Câmara sem que ele se arrisque à retaliação pela quebra dos compromissos que com ele tem.
André Singer, hoje, na Folha, mostra ter percebidos também estes sinais:
“Como já se tornou praxe nos últimos
seis meses, a transformação de Cláudia Cruz em ré ocorre no momento mais
adequado para produzir efeitos políticos. Depois de inúmeros
adiamentos, foi marcada para a próxima semana a votação do parecer que
pede a cassação do parlamentar carioca. Dividida rigorosamente ao meio, a
Comissão de Ética deve decidir sob o impacto da afirmação midiática do
mosqueteiro Dallagnol: “Dinheiro público foi convertido em sapatos de
luxo e roupas de grife”.
Singer destaca esta dependência, que está à vista de todos:
“O problema é que as hostes cunhistas
têm se mostrado infensas ao burburinho da opinião pública e publicada.
Depois de tantos indícios revelados, o deputado continua com expressivo
apoio parlamentar. O presidente interino da Câmara e o líder da maioria,
para ficar em exemplos maiores, fazem parte da escolta, apesar de todos
os pesares.”
A previsibilidade do quadro político, porém, é hoje zero em nosso país.O Brasil entrou no “modo traição e oportunismo”, que vai da mais rastaquera sordidez de se gravarem conversas a granel até o estabelecimento de uma “pauta-bomba judiciária”. Parece haver estantes na Procuradoria Geral da República e no próprio Supremo Tribunal Federal diante das quais decide-se “o que temos para hoje”: os alfinetes da madame, o envio do Lula para Moro, mais um processo contra Cunha, um pedido de prisão para Renan…
O estoque é vasto, por certo, mas fica a impressão que o tempo político é o senhor das razões de algo “andar” a cada momento: cinco meses para afastar Cunha, cinco horas para impedir Lula de assumir um ministério.
Viramos o país dos golpistas.
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