Por Fernando Brito, Tijolaço -
2016 terminou com o assassinato friamente premeditado do embaixador grego Kyriakos Amiridis; 2017 começa com o assassinato enlouquecido de 12 pessoas em Campinas, inclusive a ex-mulher e o filho de oito anos do assassino, que se matou.
Dizem de ambos que foram crimes passionais.
Por favor, não façam isso com a palavra paixão, ou pelo menos com seu sentido mais comum, o de amor intenso.
Não há amor que deseje o mal do amado.
Não há quem ame que queria surrar , balear ou matar seu amado.
Nisso só há egoísmo e brutalidade, marcas deste tempo de regressão que vivemos.
O amor desfeito, frustrado, perdido não é bala, não é tapa, não é soco. É lágrima e lágrima escorre e seca.
A crônica de fim de ano do meu bom amigo Marceu Vieira diz, com a sabedoria de quem já viveu:
Até o amor que a gente imaginava pra
sempre passa. Deixa feridas, mas passa. Feridas que, às vezes, demoram a
sarar, mas passam. Passam, sim. Se passa o prazer do sexo, tão intenso,
mas fugaz, por que não passaria uma saudade aguda e doída? Passa o que
devia e passa o que não devia. Passam a glória eterna, a tristeza que
imaginamos sem fim e o riso de segundos.
As campanhas moralistas, o exercício das “convicções” acima da leis, as vinganças, as chacinas, a punição atroz como redenção só conduzem ao absurdo da loucura.
É o que tem sido feito em nosso país, o exercício da intolerância, busca sem limites pelas vantagens que traz a destruição do outro.
A violência não nos é inata, e, há exatos três anos, num texto de ano novo, o escrevi aqui:
O [filho] mais novo ganhou no Natal um joão-bobo, destes de super-heróis, e não se animou a socá-lo.
“Por que eu tenho de bater nele, pai?”
Como descrer do mundo ouvindo isso?
E transformamos o que seria decepção e dor em agressão e morte.
Quando os “justiceiros” são heróis, cada um de nós se acha no direito de invadir a vida dos outros.
E, algumas e cada vez mais vezes, destrui-las.
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