Laerte Coutinho: extinção do MinC foi demagogia
09:27
Arte
,
Brasil
,
Golpe
,
Governo Interino
,
Laerte Coutinho
,
MinC
Por Débora Fogliatto, Sul 21 -
Aplaudida de pé pelo público que lotava o pequeno Café Cartum, em Porto Alegre, a cartunista Laerte Coutinho participou de bate-papo com a pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre Luciana Genro (PSOL) na tarde desta quarta-feira (18). A conversa, curta devido ao pouco tempo disponível da cartunista, que veio à capital gaúcha participar da FestPoa Literária, foi focada principalmente no momento político do país e na relação do período com os movimentos e com possíveis perdas de direitos da população LGBT.
O assunto foi introduzido por Luciana Genro, que falou das medidas tomadas pelo “vampiro”, referindo-se ao presidente interino Michel Temer, que acabou com o Ministério da Cultura. “Ele está tentando destruir o serviço público brasileiro, com suas propostas privatizantes de arrocho, sucateamento, ameaças aos trabalhadores. Não podemos admitir retrocessos, é momento de resistência e de lutar por avanços”, definiu.
Otimista e pessimista ao mesmo tempo, segundo sua própria definição, Laerte respondeu a perguntas de Luciana e do público destacando o papel das entidades, organizações e movimentos na sociedade atual. Para ela, há muitas diferenças entre o momento atual do Brasil e o que o país vivia em 1964, especialmente em termos de organização social. “Depois do fim da ditadura, passamos por momentos de crescimento, aprendizado e de formular coisas, construir espaços. Hoje existe uma sociedade muito mais embasada, empoderada”, afirmou, embora acrescentando que há uma ameaça conservadora, que se concretiza com os planos já divulgados do governo interino de Michel Temer.
Ao mesmo tempo, Laerte avalia que a resistência aos retrocessos já está sendo feita. “Organizações, sindicatos, entidades ligadas a movimentos sociais, ao movimento feminista, LGBT, negro, indígena, apresentam um crescimento muito grande, é o que hoje está impedindo a colocação de uma nova ordem conservadora. É como as ocupações em escolas, que começaram em São Paulo e se espalharam. A experiência desses jovens vêm de múltiplos lugares, vêm do mundo inteiro, através das mídias modernas”, aponta. Luciana concordou, mencionando as mobilizações da juventude, que demonstram “essa vontade que existe na sociedade civil de se organizar e defender seus direitos”.
A extinção do MinC foi classificada como uma decisão “demagógica”, apenas para “atender um vozerio”, na opinião de Laerte. “Não é à toa que o Silas Malafaia comemorou o fim do ministério, dizendo que era ‘antro de esquerdopatas’. Isso é gasolinado pelo ódio mesmo, pelo preconceito. Esse gesto do governo [de acabar com o MinC], com vários outros arranjos que Temer vem fazendo, todos têm um sentido demagógico que provavelmente não vai provocar economia nenhuma, mas vai saciar os apetites dessa gente, que é revanchista mesmo”, pondera a cartunista.
Sobre a interpretação da mídia em relação tanto ao momento político quanto a questões relacionadas aos direitos das pessoas transexuais, Laerte demonstrou auto-crítica e tranquilidade. “Eu faço parte da mídia, por ser cartunista e jornalista. Sei como as coisas funcionam, que os jornais fazem parte de uma estrutura de formatação de um ideário da população e, ao mesmo tempo, refletem parte disso. A maior parte das mídias tradicionais não ‘dão’ a notícia, mas sim fazem a notícia. As notícias são fabricadas, é todo um mundo de interpretação que é fabricado”, analisa. Por isso, ela lembra o papel da internet, que permite se desvincular dos veículos mais tradicionais.
Também na questão relacionada à situação das pessoas transexuais no país, ela voltou a se definir como “mistura de otimista e pessimista”. “A quantidade de assassinatos de travestis e transexuais no Brasil ainda é escandalosamente grandes, mas ao mesmo tempo o número de pessoas discutindo questões LGBT e de gênero também tem aumentado. Tem um ganho de capital organizacional que não recua”, disse, referindo-se aos possíveis retrocessos políticos.
Do Cartum, Laerte seguiu para o bar Ocidente, onde aconteceu a abertura da Festa Literária de Porto Alegre (FestiPoa Literária). A nona edição do evento, que acontece até o dia 22, reúne debates, leituras, lançamentos, oficinas, exposições, shows, espetáculos de teatro, filmes, saraus, performances, entre outras atividades relacionadas à literatura.
0 comentários:
Postar um comentário