Além da crise, também a doença “é psicológica” para o Governo Temer
Por Fernando Brito, Tijolaço -
O amigo aí curte ser espetado para tirar sangue para um hemograma?
A cara amiga se amarra em entrar no tubo de um tomógrafo? Vai dizer que não gosta daquela cápsula e daqueles rangidos de filme de abdução extra-terrestre?
E um cateterismo de investigação, daqueles com bastante iodo para contraste, não é legal?
Nem um Raio-Xzinho com aquela chapa de metal fria e aquela luz mortiça com a marca de alvo de bala perdida?
Pois é o que o Sr. Ricardo Barros, Ministro da Saúde de Temer, acha.
Porque diz que “é ‘cultura do brasileiro’ só achar que foi bem atendido quando passa por exames ou recebe prescrição de medicamentos, e esse suposto ‘hábito’ estaria levando a gastos desnecessários no SUS (Sistema Único de Saúde)”.
O ministro, que já havia proposto “planos de saúde populares”, com pequena cobertura para permitir custos mais baixos às operadoras, com a redução na lista de exames e procedimentos cobertos.
Sem problemas, na visão do ministro, porque, afinal, os exames são uma espécie de placebo, de efeito meramente psicológico.
O ministro é, literalmente, um ignorante.
A cultura do exame desnecessário ou realizado antes de outros procedimentos diagnósticos não é do paciente, mas da própria medicina privada. A preventiva ou de atendimento primário é essencialmente do sistema público de saúde.
Quando um exame de maior complexidade é solicitado, o infeliz ainda leva um bom tempo para marcar e dificilmente deixa de buscar os resultados daquilo que lhe consumiu esforço e tempo para fazer.
Ter resultado negativo em um exame não é desperdício, mas recurso da investigação clínica: um quadro viral muitas vezes só pode ser estabelecido se um hemograma descartar uma situação de infecção, um lipoma requer, muitas vezes, uma ressonância magnética para que se elimine a eventualidade de um tumor e assim por diante.
A história de que quer reduzir os exames clínicos é, portanto, alguma “assoprada” que recebeu dos planos e jogou em cima do SUS.
E isso o faz pior que um ignorante, cujo pecado é apenas não saber.
O faz cúmplice de quem quer ganhar muito dinheiro afirmando genericamente que “se faz exames e dá medicamentos que não são necessários só para satisfazer as pessoas”.
Isso pode até acontecer na medicina privada, por não se querer “perder o cliente”. Na rede pública, o profissional não tem “cliente”.
Tem paciente e nenhuma razão para ele “virar freguês”.
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