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Valadão |
Por Hermes Fernandes, DCM -
Depois que o Malafaia propôs que seus fiéis boicotassem os produtos
da Boticário, o Feliciano sugeriu o boicote à Natura, chega a vez da
pastora e cantora Ana Paula Valadão utilizar sua influência no mundo
gospel para pedir que seus fãs boicotem as lojas C&A. De acordo com a
pastora mineira, a última campanha publicitária da rede seria um acinte
à família e aos valores cristãos, sugerindo que sua verdadeira intenção
seria propagar o que ela chama de “ideologia de gêneros”.
Do ponto de vista publicitário, a peça é belíssima. Locação e
fotografia impecáveis. Fala-se, nas entrelinhas, da igualdade de gênero e
de liberdade de escolha, valores cada vez mais caros à sociedade
ocidental. Porém, Ana Paula não vê outra coisa que não seja a
disseminação de tudo o que é contrário à sua fé. Ela sugere aos fiéis
que promovam um boicote semelhante ao que os evangélicos americanos
fizeram à rede de lojas de departamento Target, rendendo-lhe um
histórico prejuízo.
De acordo com alguns sites dedicados ao público evangélico, o que
teria motivado a cantora seria vingança, pois a C&A teria se
recusado a contratá-la como garota propaganda, depois que ela pediu de
cachê uma bagatela de três milhões de reais.
Interesses comerciais à parte, o que incomodou aos evangélicos mais
conscientes foi o falso moralismo proposto pela campanha. O que deveria
chocar e causar o que ela chamou de “santa indignação” não são homens
usando roupas femininas ou vice-versa. Em momento algum, Ana Paula
mencionou o recente escândalo em que a loja se envolveu relacionado ao
uso de mão de obra de escrava. Em sua visão religiosa tacanha, deve-se
boicotar a loja por estimular a permissividade, a sem-vergonhice, a
nudez despudorada.
Por que deveríamos nos importar com trabalho escravo? Por que ficar
chocado com gente amontoada em oficinas clandestinas, incluindo
imigrantes ilegais e até crianças? A julgar pelo perfil que os
evangelhos traçam de Jesus, com o que ele realmente se importaria?
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Em apoio à primeira dama interina |
Com um comercial que promove mais do que simplesmente consumismo ou
com a exploração e a opressão a que são submetidas centenas e até
milhares de pessoas em confecções que abastecem as grandes lojas de
departamento como a Zara e a própria C&A? Isso sim é imoral. Isso
que deveria nos causar indignação (não precisava nem ser santa!),
independentemente de credo. Mas, pelo jeito, a indignação da cantora,
além de não ser nada santa, também é seletiva.
Enquanto prevalecer tal mentalidade pudica entre boa parte dos
evangélicos, dar-se-á muito mais importância à sexualidade alheia do que
ao sofrimento alheio. De que adianta ser bela, recatada e do lar e
perder o bonde da história, mergulhada em alienação?
De que adianta aparecer de avental e colher de pau nas redes sociais
em apoio à primeira-dama interina do país, mas não ter senso crítico
social?
Já passou da hora de parar de coar mosquitos enquanto ficamos com
dromedários atravessados na garganta. Menos falso moralismo e mais
consciência social. Menos farisaísmo e mais solidariedade. Menos
boicotes revanchistas e mais consumo consciente. Menos rancor e mais,
bem mais amor.
Uma última sugestão para Ana Paula e seu séquito: Que tal nos
preocuparmos menos com homens vestidos de mulher ou vice-versa e nos
preocuparmos mais com lobos vestidos em pele de cordeiro?
Vídeo:
2 comentários:
Os evangélicos reunidos em torno de Silas Malafaia, Marcos Feliciano e Jair Bolsonaro são o que há de mais fascista e, por isso mesmo, mais perigoso e apavorante na política e na sociedade brasileira atualmente. Temos de encontrar meios de impedir o fundamentalismo evangélico de chegar ao poder.
Os evangélicos reunidos em torno de Silas Malafaia, Marcos Feliciano e Jair Bolsonaro são o que há de mais fascista e, por isso mesmo, mais perigoso e apavorante na política e na sociedade brasileira atualmente. Temos de encontrar meios de impedir o fundamentalismo evangélico de chegar ao poder.
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