Vaias para a Democracia
por Thea Tavares, no Facebook -
Não lembrei antes de fazer isso, mas queria dividir aqui uma sensação estranha que me ocorreu, ontem, durante a encenação da peça “Morte acidental de um anarquista” na Ópera de Arame, em noite de encerramento do Festival de Teatro de Curitiba.
Uma amiga confidenciou há pouco que sentiu o mesmo.
Parecia que estava em outra dimensão! E isso é o que mais confunde…
Antes de mais nada, preciso deixar claro que adorei a peça. Mas foi estranhíssimo dividir aquele prazer com outras sensações…
A peça inteira, baseada em fatos reais, é uma crítica à versão oficial da história, contada pela instituição da Justiça e pela Polícia sobre o “suicídio” Mandrake de um anarquista.
Os atores, mestres da arte do improviso, rechearam a comédia crítica com comparativos com a realidade da política e da sociedade atuais… Como já foi feito em outros momentos e episódios parecidos da história.
O mais estranho é que tudo o que eu percebia como crítica e ironia nos diálogos (e minha amiga é da mesma opinião), a plateia da “República” local encarava como “elogio”.
Por exemplo: “Eu quero muito ser juiz porque juiz pode tudo”. Para mim, era crítica (com nome e sobrenome), mas para grande parte da plateia, motivo de delírio.
Hello!!!
Mas o absurdo dos absurdos foi o momento em que, em meio às zoações da comédia, alguém dá a deixa “Toca Raul!” para o tecladista e enquanto os atores no palco cantavam e dançavam ao som de “Viva! Viva! Viva sociedade alternativa”, o personagem do Dan Stulbach grita, entre vários “vivas”, um “Viva a Democracia!”. E a gente ouve no meio da plateia diversas vaias (VAIAS, eu disse e repito pasma: VAIAS!) para a democracia.
Pelo menos, fica a constatação de que a tchurma do golpe está mais sincera em se posicionar publicamente contrária ao estado democrático de direito. Porque até agora, a coisa era camuflada (feliz trocadilho).
Não é assustador?!
Quero voltar a ver a encenação desse mesmo espetáculo, só que fora do contexto atual para tirar a prova dos 9. Ou então gostaria também de ser uma mosquinha (da sopa da música do Raul de novo) para bisbilhotar como funcionaria hoje mesmo a interação com a plateia em outra cidade, que não seja na capital da Lava Jato. Onde dar vivas à democracia não soe ofensivo a ninguém e muito menos seja algo atiçador de protestos e retaliações.
#VivaADemocracia #NãoVaiTerGolpe
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