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Estudos recentes mostram que otimismo pode gerar comodismo e preguiça |
Da BBC Brasil -
Stausholm acreditou no parceiro e se sentiu animado. "O pensamento positivo é algo que faz parte do DNA de qualquer empreendedor. Sem ele, você nunca deveria começar um negócio", afirma.
Mas quando a firma começou a ter problemas, o dinamarquês aprendeu uma dura lição. "Só pensar positivo e manter uma atitude otimista não adianta. É preciso misturar tudo com uma boa dose de realismo."
O poder do pensamento positivo tem sido um princípio de líderes do mundo dos negócios ao menos desde 1936. Foi quando Napoleon Hill, assessor de dois presidentes americanos, publicou Quem Pensa Enriquece, com a "receita" do sucesso de alguns dos mais bem-sucedidos empresários de sua geração.
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Dinamarquês Michael Stausholm foi à falência com sua primeira empresa, apesar do otimismo do sócio |
Segundo essas obras, dúvidas e pensamentos negativos são obstáculos para o sucesso. Mas, na realidade, uma nova leva de pesquisas está descobrindo que o pensamento positivo também tem suas limitações - e armam suas próprias ciladas.
Ou seja, o otimismo pode emperrar o sucesso.
O poder irresistível da fantasia
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Cérebro humano tem uma tendência natural para formar pensamentos positivos |
"O problema é que quando as pessoas fantasiam sobre seus objetivos elas frequentemente não fazem o esforço necessário para atingi-los", diz a psicóloga.
O estudo de Oettingen revelou que jovens que pensavam positivamente sobre ter um bom emprego, dois anos após deixar a universidade, acabavam ganhando menos e tendo menores chances de contratação do que colegas com mais dúvidas e preocupações. Os mais otimistas também se candidatavam a menos vagas do que os pesssimistas.
"Eles criam uma fantasia e já se sentem realizados e relaxados, perdendo a motivação necessária para que as coisas de fato aconteçam", afirma.
Nimita Shah, diretora do grupo The Career Psychologist, com sede em Londres, conta que muitos clientes reclamam da frustração por não conseguirem manifestar seus desejos, e falam da culpa que sentem por serem pessimistas, como se isso fosse parte do problema.
"O efeito é o mesmo de fazer uma 'dieta milagrosa'. Criar uma imagem positiva do futuro pode servir como estímulo imediato, mas a longo prazo só serve para fazer o indivíduo se sentir pior", afirma Shah.
Otimismo, atitude natural
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Para especialistas, é fundamental não ver o mundo apenas em cor-de-rosa e ter uma dose de pessimismo |
Segundo Tali Sharot, autora de O Viés Otimista e diretora de um grupo de estudos sobre o efeito das emoções sobre o cérebro, o otimismo está embutido na psique humana.
Em seus primeiros experimentos, Sharot pediu a voluntários que imaginassem situações futuras negativas, como perder o emprego ou terminar um relacionamento.
Ela observou que as pessoas automaticamente tentavam transformar a experiência em algo positivo - como, por exemplo, separar-se do parceiro e arrumar outro melhor.
"Nós temos uma tendência inerente a nos inclinarmos ao otimismo. Estamos sempre imaginando o futuro como algo melhor do que o passado", diz.
Esse viés otimista, que, segundo Sharot, ocorre em cerca de 80% da população, independentemente de sua origem cultural ou nacionalidade, ajuda as pessoas a manter a motivação.
Estudos científicos também mostram que os otimistas vivem mais e têm mais chances de serem saudáveis.
"O pensamento positivo pode ser tornar uma espécie de profecia auto-realizável. Quem acredita que irá viver melhor pode acabar tendo uma alimentação mais adequada e uma rotina de exercícios apropriada", afirma Sharot. "O otimismo também ajuda as pessoas a superar circunstâncias difíceis."
No entanto, o viés otimista também acaba fazendo com que indivíduos subestimem riscos.
Equilíbrio certo
Com base em 20 anos de pesquisas, Oettingen desenvolveu uma ferramenta que batizou de Woop (sigla em inglês para desejo, resultado, obstáculo e planejamento).
Lançado em um site e em um aplicativo de smartphone, o Woop oferece ao usuário uma série de exercícios desenvolvidos para ajudar a elaborar estratégias concretas para atingir objetivos de curto e longo prazos, misturando pensamento positivo com atenção para a existência de um lado negativo ou de obstáculos.
"Trata-se de uma maneira de fazer com que a pessoa entenda que, no mínimo, ela pode colocar de lado aquela meta sem ter um peso na consciência e sabendo que olhou para o problema a partir de todos os ângulos possíveis", explica a psicóloga.
Voltando ao empresário dinamarquês, a lição aprendida com o excesso de otimismo acabou compensando. Há alguns anos, Stausholm fundou a fabricante de lápis sustentáveis Sprout, tomando o cuidado de colocar seus planos no papel e fazer planos para o caso de tudo acabar mal.
Hoje, sua empresa vende mais de 450 mil lápis por mês em 60 países, resultados que surpreenderam o próprio Stausholm, hoje um pessimista convicto.
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