Como Wham! de George Michael se tornou a 1ª banda pop a tocar na China comunista

O empresário do Wham! passou 18 meses convencendo as autoridades chinesas a deixarem a dupla se apresentar no país comunista
Todo mundo que foi ao show da dupla Wham! na China, em 1985, parece lembrar dos mesmos detalhes: muitas luzes brilhantes, a impressionante gritaria dos fãs quando a música começou e as roupas de George Michael e Andrew Ridgeley.





Ao mesmo tempo, a dupla Wham! queria provar que era a maior banda pop do mundo. Um show na China era a oportunidade ideal.

Durante um almoço, o empresário da dupla, Simon Napier-Bell, tentou convencer várias autoridades chinesas de que uma excursão dos garotos ao país era uma boa ideia.

Longa negociação

O sucesso de vendas ia depender de como a China seria vista pelo mundo depois de permitir que George Michael e Andrew Ridgeley tocassem no país.
A presença do Wham! confirmaria, argumentava Napier-Bell, a disposição do Partido Comunista de receber estrangeiros e o tão necessário investimento estrangeiro.

A proposta do empresário deu certo: depois de 18 meses de negociações o governo chinês deu o sinal verde para o Wham! tocar em Pequim e em Guangzhou (ou Cantão), no sul da China, em abril de 1985.

A dupla se tornaria a primeira banda ocidental a tocar na China, saindo na frente do Queen e dos Rolling Stones, que também sonhavam com a oportunidade.

"Um dia, vi o cartaz anunciando o show", lembra Li Shizhong, de Pequim, que na época era um adolescente.

"Os caras da banda tinham cabelos longos e encaracolados. Eles se vestiam de um jeito diferente. Eu achei a música nova, eles eram muito diferentes de tudo o que eu tinha visto antes".

"Mas não pude ir ao show", lamenta, "porque não tinha como pedir aos meus pais 5 yuans (R$ 2,62) para pagar o ingresso. Meus pais não podiam gastar isso".

Show histórico

"Não tínhamos uma vida noturna. Eu era um garoto de 15 anos e não podia sair mais de casa a partir das 20h30".

"As rígidas convenções sociais da época eram a verdadeira razão pela qual eu não podia ir ao espetáculo. Na época, se você tocasse guitarra nas ruas, seria considerado um baderneiro".

"Eu só tinha roupas azuis, verdes e cinzas no estilo que ficou famoso durante a Revolução Cultural. Se alguém usasse uma cor diferente, todo mundo notava.

Agora, achamos que é moda, mas na época significava problema".

"Os cantores se movimentavam muito e o som era alto", lembrou Kan Lijun, que chamou a banda ao palco e assistiu ao show nos bastidores
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Muitos ingressos foram dados às autoridades do governo chinês.
"Eu fui ao show porque o pai de um colega trabalhava no Ministério da Cultura e eu ganhei um ingresso", contou Lin Wenjun, que vive em Guangzhou.

"Nem todo mundo conhecia a banda, mas eu ouvia as músicas deles numa rádio de Hong Kong, que na época não era bloqueada".

Governo distribuiu ingressos

"Acho que a maior parte do público tinha ganhado ingressos, porque eram umas pessoas mais velhas. Elas não se vestiam como fãs de música", lembrou.

"Até aquele dia, eu só tinha visto um espetáculo de balé. Por isso, o show foi uma experiência impressionante com todas aquelas luzes e o som estéreo".

"Eu queria cantar as músicas junto com eles, mas não ousei porque ninguém na plateia estava fazendo isso".

Mesmo os envolvidos no show estavam surpresos com tanta novidade.

Kan Lijun, que hoje é uma famosa apresentadora da TV chinesa, foi quem chamou o Wham! ao palco, no espetáculo em Pequim, há 31 anos.

Ela apresentou George Michael e Andrew Ridgeley ao público e assistiu ao show nos bastidores.

"Ninguém tinha visto nada parecido antes", contou.

"Os cantores se movimentavam e o som era muito alto. Éramos acostumados com artistas que ficavam parados no palco".

"Os jovens estavam encantados e todo mundo marcava o ritmo com os pés. Claro que a polícia não gostou e temia tumultos. Uma vez, na saída de um evento esportivo, o público empolgado virara um carro".

Músicas proibidas

Antes do Wham! se apresentar no país, muitos tipos de música eram proibidos na China.

"Na época, se quiséssemos ouvir música pop com letras como aquelas, tinha que ser escondido", disse Kan.

Se você fosse pego, era levado para a delegacia e ficava lá a noite toda. Era uma época de muitos tabus".

O Wham! foi autorizado a cantar na China, mas suas letras não escaparam da propaganda comunista.

Uma fita cassete com músicas da banda de um lado e as versões chinesas da cantora Cheng Fangyuan do outro, foi dada para cada pessoa da plateia.

Relíquia: a fita cassete com músicas do Wham de um lado e a versão chinesa (com toques comunistas) do outro foi distribuída a cada fã no show de 1985
Lin Wenjun recebeu uma fita quando foi ao show em Guangzhou, mas acabou vendendo para um colega de turma por 20 yuans (R$ 9,42), um bom dinheiro na época.

Para outros fãs, essa fita cassete continua sendo um tesouro.

"Alguns colegas se juntaram e me deram a fita de presente", lembrou Li Shizhong, o morador de Pequim que não pôde ir ao show. "Eu ainda a tenho".

"Fico contente que eles tenham vindo à China. Aquele show foi muito importante para nós", completou.
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