Aproveitando-se do impacto do dilúvio de e-mails liberados pelo “Wikileaks” em outubro (muitos dos quais associados ao tema UFO) e pelas declarações de Hillary Clinton de que o Governo liberaria informações sobre a questão ufológica, Donald Trump partiu para a típica estratégia Smart Power de guerra total: um documento intitulado “Programa de Salvamento” produzido por uma empresa de Inteligência e estratégia dos EUA, supostamente vazado pelos hacker ativistas “Anonymus” e viralizando na Internet, prevê cenários de False Flag que permitiriam suspender as eleições. Um deles, seria a “Operação Firesign” criada pela NASA – por meio de hologramas 3D projetados na alta atmosfera simular uma invasão extraterrestre. Na verdade, plágio explícito de um episódio da série “Star Trek: A Nova Geração”. Tudo parece bizarro e risível, não fosse parte da tendência da “Smart Power” na Política atual – tornar crível ou ambíguo e viral estratégias políticas por meio de narrativas ficcionais da indústria do entretenimento. Por todos os lados vemos a chegada da estetização midiática da política. No Brasil, Doria Jr., Crivella, Temer etc., todos baseados em personagens e narrativas de entretenimento.
Por Wilson Roberto Vieira Ferreira, Cinegnose -
Até
o início do século XX, o campo da política sempre fora marcado pelas lutas através
das armas ideológicas, mentiras ou simplesmente pela força bruta. A ascensão do
nazi-fascismo na Europa sob os escombros da primeira guerra mundial mudou tudo
isso. Essas armas milenares foram incorporadas à noção de “Guerra Total”
nazista, que persiste ainda hoje sob novas denominações como “Soft Power” ou
“Smart Power”.
Vimos
em postagem anterior como o Cinema, olhado com desconfiança pela elite política
e cultural dos EUA como ameaça à ordem pública, foi, ao contrário, uma obsessão
para o nazi-fascismo, não só pelo poder de propaganda mas também pelo
simbolismo de modernidade que transformaria definitivamente a maneira como a
opinião pública percebe tanto a ficção como a realidade – clique aqui.
Destruição como espetáculo de primeira ordem
Walter
Benjamin chamou esse fenômeno de “estetização da política”. Para ele, as
grandes fábricas de sonho nasceram sob o signo da guerra: levar a um ponto em
que as massas assistiriam “sua própria destruição como um prazer estético de
primeira ordem” – BENJAMIN, Walter, Obras escolhidas.
Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo:
Brasiliense, p. 196.
Para
o filósofo e urbanista francês Paul Virilio, a conjunção Cinema e Guerra tem um
princípio estratégico bem definido: “abater o aniversário é menos capturá-lo do
que cativá-lo, é infligir, antes da morte, o pânico da morte” – VIRILIO, Paul. Guerra e Cinema. São Paulo: Página
Aberta, 1993.
Anonymus
salva o dia
O
caso mais recente foi o hoax do
chamado Projeto Firesign que circula pela Internet, aproveitando-se do dilúvio
de e-mails do Wikileaks liberados em outubro (muitos dos quais associados ao
tema UFO), as várias acusações de assédio sexual contra Donald Trump e a
suposta revelação do “Projeto Veritas” – articulação de gangues composta por
imigrantes para provocar distúrbios e ataques nos comícios de Trump.
Aproveitando-se
das notícias de que durante a campanha presidencial a candidata Hillary Clinton
vem prometendo liberar informações do governo sobre a questão ufológica, o
marketing político de Trump “vazou” na Web um estranho documento em PDF
atribuído ao Benenson Strategy Group (BSG), empresa de Inteligência e
Estratégia supostamente contratado pelo staff da campanha Clinton. O documento
initula-se “Salvage Program” – “Programa de Salvamento”.
São diferentes cenários de False Flags (“Falsas Bandeiras” - operações criadas a partir de crises fictícias de modo a tirar vantagens das consequências resultantes): o apocalipse de uma epidemia de zika vírus; desastres naturais artificialmente provocados pelo HAARP; atentados terroristas criando um cenário de forças da ONU mobilizadas para as fronteiras com o Canadá... e a simulação de uma massiva invasão extraterrestre usando uma avançada tecnologia holográfica – clique aqui para ler o documento.
O
hoax Firesign
Esse
seria o projeto ultra secreto da NASA e Departamento de Defesa chamado
“Operação Firesign”, bem conhecido por teóricos da conspiração e
pesquisadores de OVNIs e
exopolítica.
Segundo
o documento “vazado”, o objetivo do projeto é induzir a uma histeria religiosa
em massa usando tecnologia holográfica de projeção a laser, criando imagens 3D
realistas sobre a “camada de sódio da atmosfera” a uma altitude de cerca de 100
km. Imagina-se a projeção de naves estelares chegando à Terra, acompanhado de
imagens de Jesus Cristo, Maomé etc., todos chegando à Terra. Pense na
histeria de interpretações contraditórias, entre invasão extraterrestre e a chegada do
messias...
O
documento da BSG inclusive apresenta diagramas do equipamento de projeção e a
mecânica de funcionamento. Praticamente um cinema a céu aberto, com todos os
ingredientes que o cinema atual busca: imersão e interatividade!
Blue
Beam e Star Trek
Ambos
projetos são trocadilhos ufológicos: Blue Beam como referencia ao famoso
Projeto Blue Book da Força Aérea dos EUA , projeto secreto de estudos do
fenômeno OVNI; e o Projeto Sign, programa atual de estudos dos OVNIs da Foça
Aérea norte-americana.
Lendo
o documento da BSG, percebe-se que por todo texto exala o viés anti-Clinton.
Dessa vez, a velha conspiração do Blue Beam foi reciclada para fins partidários
pelo QG da campanha de Donald Trump.
Assim
como foi o Blue Beam nos anos 1990, o Firesign é uma farsa, desde a
absurdamente anti-científica descrição sobre hologramas “na camada de sódio da
atmosfera” e, principalmente, que não estamos mais em 1994 – ninguém mais olha
para o céu, a não ser para seus próprios celulares.
O hoax Blue Beam foi originalmente criado
pelo jornalista radical fundamentalista e separatista de Quebec, Canadá, Serge
Monast. No texto publicado na Internet em 1994, Monast descrevia um “gigantesco
show espacial” projetado por hologramas 3D em diferentes pontos do planeta
sobre a chegada de “Um Novo Cristo” ou “Messias”. Objetivo: desacreditar
antigas religiões com a possibilidade de uma invasão extraterrestre, unindo o
planeta em uma Nova Ordem Mundial.
Em
fevereiro daquele ano ia ao ar o episódio de Star Trek: A Nova Geração chamado “Devil’s Due” que apresentava um
cenário muito semelhante ao Projeto Blue Beam. Aliás, episódio que reciclou uma
série de temas de scripts de livros Star
Trek de Roddenberry nos anos 1970.
Blue
Beam e Mel Gibson
Quanto a Serge Monast, dois anos depois morreria de um ataque cardíaco. Seus seguidores denunciavam um suposto “assassinato por meio de armas psicotrônicas”. Sua denúncia sobre o projeto da NASA em implementar uma religião New Age mundial através da simulação da “Segunda vinda de Cristo” dos céus, chegou inclusive a inspirar a criação do personagem Jerry Fletcher, interpretando por Mel Gibson em 1997 no filme Teoria da Conspiração.
Das
massas que achavam Hitler e Mussolini críveis ao verem neles as performances
canastronas dos galãs dos silent movies,
passando pelo “Projeto Guerra nas Estrelas” de Ronald Reagan (projeto bélico
real tributário da fictícia saga intergaláctica da trilogia Star Wars) e chegando as pessoas que,
incrédulas, viam as torres do WTC desmoronando em 2001 acreditando presenciarem
as filmagens de mais um disaster movie
hollywoodiano, o modos operandi
continua o mesmo: Guerra Total, Soft
Power ou Smart Power – estetização da política na qual a força da
credibilidade de fatos reais vem das narrativas ficcionais de entretenimento.
Trump, João Doria Jr., Crivella...
A
ironia em toda essa história é que as estratégias da chamada “Smart Power”,
implementada por Hillary Clinton ao se tornar Secretária de Estado do governo
Barack Obama em 2009, sejam usadas agora por Trump, contra ela, na campanha
presidencial.
Mas
por todos os lados, assistimos à chegada ao Estado por vias eleitorais de
personagens midiáticos que se dizem avessos à política: Dória Jr. em São Paulo
(aquele dublê de banqueteiro de encontros empresariais e gestor que demite
incompetentes em reality show de TV), Crivella no Rio de Janeiro (pastor
eletrônico de uma igreja dona de emissora de TV). Isso sem falar na canastrice
do desinterino Michel Temer (que por vias indiretas chegou ao Poder),
caricatura da caricatura das performances televisivas de Raul Gil ou Silvio
Santos.
Ou
o juiz justiceiro Sergio Moro, representado em adereços de protesto de rua
vestindo capa e roupa de elastano dos super-heróis da Marvel ou DC comics.
0 comentários:
Postar um comentário