Trajano se diz 'chocado' e associa saída da ESPN a ativismo político

Trajano trabalhou na emissora desde sua instalação no Brasil, há 21 anos
''Eu acho um pouco estranho neste momento conturbado do país. Já me chamaram algumas vezes dizendo que seria melhor não falar nada de política", disse em entrevista

Da RBA -

O jornalista José Trajano afirmou hoje (30) ter ficado surpreso com a notícia da rescisão de seu contrato por parte da ESPN. ''Estou meio assim chocado, ninguém trabalha por tantos anos tendo fundado o canal, recebe um bilhete azul e fica tranquilo", disse o profissional à repórter Luiza Oliveira, do UOL. Trajano trabalhou na emissora da Disney desde sua instalação no Brasil, há 21 anos. "Tenho recebido tanto conforto, que isso está me envaidecendo, mostra um trabalho bem feito, formador de muita gente. Eu levo o orgulho de ter feito o canal."

Trajano passou os últimos meses engajado na movimentação de resistência ao golpe jurídico-parlamentar que levou ao impeachment de Dilma Rousseff.  Mesmo não tendo histórico de ligação com o PT, é conhecido pela trajetória de militante em defesa da democracia desde os tempos da ditadura. Tornou-se presença frequente em manifestações, atos abertos ou fechados e listas de assinaturas de intelectuais condenando o Estado de exceção instalado no país.

Em agosto, a uma semana da votação final do impeachment pelo Senado, ele – ao lado dos também escritores e jornalistas Fernando Morais e Alípio Freire, da professora aposentada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Stella Senra e do sociólogo Laymert Garcia dos Santos – encaminhou ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, uma petição pública em que pedia a anulação de todo o processo envolvendo o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, desde sua aceitação pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A petição acusava Cunha de "desvio de poder e ofensa à moralidade administrativa", como um dos pilares para pedir a anulação do processo.

Em maio, durante ato na Casa de Portugal, em São Paulo, Trajano afirmou que o golpe não seria possível sem a cumplicidade da imprensa tradicional no processo e exaltou o papel da imprensa alternativa na resistência – "a verdadeira mídia deste país". Na ocasião, pediu unidade para o combate: "Temos de sair daqui unidos e confiantes que vamos derrubar quem usurpou o poder".

Na entrevista ao UOL, o ex-diretor de jornalismo da ESPN associou seu desligamento ao ativismo. ''Eu acho um pouco estranho neste momento conturbado do país. Já me chamaram algumas vezes dizendo que seria melhor não falar nada de política. Eu sempre fui envolvido e nunca escondi as minhas preferências políticas. Achavam que pelo fato de eu ser um talent, onde eu estivesse eu estaria representando o canal'', disse. ''Houve um documento entregue no mês passado dizendo que havia uma norma da empresa que era de não se manifestar politicamente, disseram que era uma norma que veio dos Estados Unidos. Eu não assinei.''

Colega de ESPN, o jornalista Juca Kfouri – também crítico do golpe – evitou comentar as razões que levaram à saída de Trajano, e demonstrou otimismo em relação ao futuro do amigo. “Não me cabe discutir para fora o motivo de empresa para qual trabalho. Cabe-me dizer a todos que o admiram, como eu, que o Zé está vivíssimo e que não lhe faltam nem projetos nem ganas para realizá-los”, escreveu.

No mesmo portal, o diretor geral da emissora no Brasil, German Hartenstein, negou motivação política na demissão. 'Ele teve uma atuação fundamental no crescimento da empresa, é um dos grandes responsáveis pelo canal estar onde está”, disse.
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