Da BBC -
Imprensa internacional e publicações nas redes sociais destacaram momentos nos primeiros dias de competição em que os fãs locais "estão tratando esportes olímpicos como se estivessem em um Flamengo x Fluminense", como descreveu um texto da agência de notícias Reuters.
Seja na prática comum no Brasil de incentivar azarões, no grito já consagrado de "ôôô Zika" para Hope Solo, goleira da seleção feminina de futebol dos EUA, ou nas vaias contra rivais brasileiras no vôlei de praia, a torcida entrou com tudo no debate.
"Fãs estridentes brasileiros se fazem de surdos para o espírito olímpico", foi o título do texto da Reuters, assinado por dois repórteres no Rio de Janeiro e distribuído para todo o mundo.
"No boxe, judô, esgrima ou até no tênis, os torcedores brasileiros estão tratando muitos esportes olímpicos como se estivessem em um Flamengo x Fluminense, uma rivalidade do Rio onde paixões, além de cusparadas e eventualmente socos, costumam voar alto", escrevem os repórteres.
O texto associa o comportamento nas arenas à cultura esportiva do Brasil - "em grande parte definida pelo sucesso do país no futebol no passado e dominada por uma atitude muitas vezes ultranacionalista contra quem não veste o amarelo local" - e também pelo perfil socioeconômico do público pagante.
Exagero ou parte do jogo?
"Os fãs brasileiros nesses Jogos do Rio são uma turma bem patriótica (...). Não há mal nisso. Essa é a vantagem de competir em casa. Mas isso quase foi um pouco além no domingo, quando o público na quadra central de tênis vaiou o alemão Dustin Brown, que tinha caído e torcido um tornozelo, o que acabou o levando ao hospital", escreveu.
Em um texto sobre o comportamento da torcida brasileira durante a competição de vôlei de praia, a revista americana Time questionou: "Será que os locais estão levando seu amor pelo esporte longe demais?".
A publicação citou o jogo de estreia das brasileiras Agatha e Bárbara, atuais campeãs mundiais. Após a derrota, as tchecas Hermannova e Slukova reclamaram das vaias que vinham das arquibancadas, a despeito dos pedidos do narrador oficial por moderação.
"Eu jogo há dez anos e nunca vivi isso. É um tipo de patriotismo. Eu acho que não é nada pessoal contra nós, eles só não sabem o limite entre o que é apropriado para o momento e o que não é mais. Nós também somos seres humanos", disse Slukova.
"Isso não é jeito de tratar rivais. Mas não se pode criar regras sobre vaias - é sempre parte do jogo no esporte. Até nas Olimpíadas", conclui o texto da revista americana.
Também houve episódios de vaias e gritos da torcida na entrada da delegação argentina na cerimônia de abertura e em esportes mais "silenciosos", como tênis de mesa, hipismo e esgrima.
Reação contra goleira
A torcida brasileira também foi tema nos dois jogos da seleção americana de futebol feminino. Por ter publicado imagens e textos sobre sua preocupação com o vírus Zika antes da Olimpíada, a goleira Hope Solo se tornou alvo de gritos de "ôôô Zika" em cada participação nas partidas.
No Twitter, fãs americanos criticaram a zombaria. "Caro Brasil, se você quer ser levado a sério, vaiar e gritar 'zika' toda vez que Hope Solo pega na bola não está ajudando", escreveu a usuária Seanchai.
"É irônico o público do Rio vaiar Efimova enquanto vibra ao máximo com seu nadador (João) Gomes (Júnior), que tomou suspensão de seis meses por doping", criticou, também pelo Twitter, o usuário Seán Donnelly.
0 comentários:
Postar um comentário