Marcela Tavares |
Criador da expressão “complexo de vira-latas”,
Nelson Rodrigues ficaria pasmo se ressuscitasse e visse como a baixa
autoestima de alguns brasileiros se transformou em uma formidável fonte
de renda.
Só isso explica a popularidade da comediante e
youtuber Marcela Tavares, que muita gente só passou a conhecer após a
repercussão do vídeo em que é nos EUA vaiada por criticar o Brasil.
Dona de uma página no Facebook com quase 2,5
milhões de seguidores e de um canal no Youtube, Marcela se exibe em
vídeos capazes de deixar aqueles sujeitos “revoltados com tudo que está
aí” com os olhos brilhando em êxtase.
Sobram críticas aos políticos, às corrupção, à tal
crise econômica, ao preço da conta de luz e à presidente Dilma Rousseff,
chamada por ela de “excelentíssima senhora presidente analfabeta
funcional”.
Sua obsessão atual são os Jogos Olímpicos do Rio de
Janeiro, assunto de vários vídeos onde ela não economiza nos termos
chulos. Um deles, com legenda em inglês, é um tutorial de sobrevivência
para o turista que for ao evento.
Nele estão listados os velhos problemas do Rio de
Janeiro e de muitas capitais brasileiras: transporte público deficiente,
violência, poluição, as doenças provocadas pelo aedes aegypti e as
dificuldades do SUS.
Embora muitas das queixas tenham fundamento, suas
falas são rasteiras e só servem para seus fãs cultivarem a ideia de que
não têm responsabilidade alguma pelos problemas do país. Ela aborda superficialmente as mazelas sociais mas não apresenta sugestões coerentes para resolvê-las ou informações novas que promovam algum tipo de debate. Tampouco diverte.
No máximo atua como porta-voz de uma legião
insatisfeita e alucinada pelos seus olhos esbugalhados como os da
Senhora Eduardo Cunha e o tom de voz imperioso no estilo Rachel
Sheherazade.
A jornalista, a propósito, conseguiu fazer seu pé
de meia depois que um vídeo onde ela destila sua revolta com o Carnaval
caiu nas graças de Sílvio Santos.
Marcela Tavares tem tudo para traçar um caminho parecido. Lançou livro, viaja pelo país para fazer stand up comedy e tem dado entrevistas a programas de televisão.
Tem até potencial para conquistar o próprio
programa, porque não falta gente complexada disposta a dar audiência a
discursos de que “o país está uma merda e nada nessa terra funciona”,
demonstrando uma resignação travestida de revolta.
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