Por André Araújo, GGN -
DITADURA
COMEÇA COM BOAS CAUSAS - Nenhuma ditadura começa anunciando que fazer o
mal. Todas ditaduras nascem anunciando boas intenções. A razão é
evidente, no começo os potenciais ditadores ainda não tem todo o poder,
ainda não estão firmes, precisam dar boa impressão para muitos grupos
que poderiam derrubá-los, MAS assim que firmes no poder mostram a
verdadeira cara e tornam-se autoritários e depois ditadores sem
máscaras. Os ditadores vão testando o terreno com cuidado, testam os
limites de seu poder, passo a passo, a cada etapa ousam mais, precisam
ver até onde os adversários recuam.
Estes tem a tática de acovardamento
defensivo, não enfrentam o ditador em construção, fingem que o apoiam
porque acham que ele não vai até o fim e vão cedendo, achando que assim
fazendo são espertos, quando o ditador em seu caminho ascendente ataca
um adversário, aquele que não foi ainda atacado acha que foi poupado e
até elogia o ditador porque este atingiu um rival sem perceber que ele
pode ser a próxima vítima. Esse roteiro aconteceu exatamente assim na
Itália fascista e na Alemanha nazista.
O ditador em potencial é geralmente
muito inteligente, ele nunca ataca frentes de uma vez, é uma por vez,
quem ainda não é atacado fica contente pensando "eu estou seguro".
Ao fim do processo de uma ditadura
ninguém está seguro e todos serão dominados. Na Itália do pós Grande
Guerra o nascimento do fascismo vinha com bases ideológicas anteriores
do direitista monarquista Charles Maurras e do sindicalista Georges
Sorel.
Mussolini, que começou a vida política
no socialismo, percebeu que o caos da Itália pós Grande Guerra abria um
espaço para líderes autoritários que pudessem colocar alguma ordem em
uma nação esfacelada, em crise econômica, que sequer teve recompensas
territoriais com sua participação na Guerra aos lado dos Aliados, na
realidade a Itália perdeu território.
Mussolini
formou uma Marcha sobre Roma e recebeu apoio da burguesia, assustada
com as ocupações de fazendas e fábricas pelos comunistas e da Monarquia,
que via o país em anarquia e achava que um líder autoritário viria em
boa hora em benefício da Casa Real. A natureza mais perversa e
persecutória do fascismo ainda não estava clara, mas assim ficou com o
assassinato do deputado anti-fascista Giacomo Matteotti por um bando
chefiado pelo miliciano Amerigo Dumini. Mesmo assim, a burguesia
continuava a apoiar Mussolini, que chegou ao apogeu de prestígio com o
Tratado de Latrão, regularizando a situação política do Papado e criando
o Estado do Vaticano, no coração da Itália.
Mussolini era muito bem visto até na
Inglaterra, onde os conservadores elogiavam o lider fascista, Churchill
era seu entusiasmado admirador até a invasão italiana da Abissínia em
1935, que atingiu a área de influência do Império Britânico. Na
Alemanha, a vitória do Partido Nazista em 1933 era vista com simpatia
pelos industriais do Ruhr, onde um de seus líderes, Fritz Thyssen, era
um dos principais financiadores do Partido, sendo inclusive eleito
deputado nas eleições de março de 1933. Thyssen apoiou Hitler até se
desencantar após a Kristalnacht, a "noite dos cristais", entre 9 e 10 de
novembro de 1938, quando lojas e sinagogas foram incendiadas, 91 judeus
mortos e 30.000 feitos prisioneiros, 1.000 sinagogas queimadas, sendo
95 em Viena.
O Exército alemão foi conquistado por
Hitler, que atendeu a seu desejo de desarmar as milícias nazistas na
Noite dos Longos Punhais, na realidade três dias de matança das
lideranças milicianas entre 30 de junho e 2 de julho de 1934, quando
Hitler sacrificou seu antigo apoiador Ernst Rohm para atender a seu
pacto com o Exército.
Assim industriais e exército foram
atendidos por Hitler até que ambos fossem por ele dominados quando
Hitler já tinha um poder incontestado. Thyssen acabou preso por Hitler
mas fugiu para a Argentina, morrendo em Buenos Aires, a família Thyssen
se dispersou pela Argentina, Brasil e EUA.
O
grande ponto de apoio de Hitler para ser indicado Chanceler em 1933
pelo Presidente da República de Weimar, o Marechal Paul von Hinderburg
foi o político tradicional Franz von Papen, nobre e militar, foi o Adido
Militar alemão em Washington até a Primeira Guerra.
Von Papel do Partido do Centro,
católico, avalizou Hítler perante Hindenburg, que se recusava a nomeá-lo
Chanceler, mesmo tendo o Partido Nazi conquistado um terço do
Parlamento, o mais votado entre todos os partidos mas sem maioria,
precisava de coalizão para ter maioria, o que foi costurado por von
Papen.
Hitler,
até 1932, tinha inclusive admiradores na Inglaterra, Churchill chegou a
pedir um encontro com ele, foi marcado um almoço no Hotel Regina em
Munique, mas Churchill não conseguiu viajar a tempo e perdeu o encontro.
Hitler
foi assim conquistando poder passo a passo, sem assutar a todos ao
mesmo tempo. Uma vez Chanceler, pouco tempo depois tornou-se ditador e
com a morte de Hinderburg assumiu poderes totais como Fuhrer da
Alemanha, abolindo a função de Presidente da República, ainda precisava
conquistar o Exército, o que conseguiu em 1934.
O
que nos ensina a trajetória das ditaduras é essa conquista do poder
etapa por etapa, e não de uma vez, MAS é facil reconhecer o processo em
marcha. O movimento autoritário vai testando o terreno passo a passo, os
antigos donos do poder vão também cedendo passo a passo, achando que
assim estão sendo espertos e vão mais adiante dominar o movimento
autoritário. A história mostra que esses "espertos" serão a próxima
vítima. Acham ótimo quando os autoritários destroem o partido inimigo
sem perceber que o objetivo do movimento é destruir TODOS os partidos,
não vai sobrar nenhum como não sobrará Congresso ou Supremo, todos serão
engolidos com o apoio da IMPRENSA, que na Itália e na Alemanha de
início apoiaram os ditadores em potencial, para depois serem
inteiramente dominadas pela ditadura.
A
grande bandeira dos ditadores é uma CAUSA nobre à qual todos devem se
sujeitar. É essa causa que justifica o autoritarismo e o poder total, é
em nome dela que tudo o ditador pode fazer, porque ninguém vai se opor a
uma causa nobre e quem contestar o ditador está se opondo à causa, é um
belo truque em que todos caem.
Assim
quem era contra Hitler era porque era contra a Alemanha. Na Itália
fascista a causa era reconquistar território perdido, reorganizar o País
devastado pela Guerra, tornar a Itália respeitada como potência, que de
fato conseguiu em um primeiro momento. O preço a pagar foi suprimir
todas as liberdades e garantias individuais, ser contra Mussolini era
ser contra a Itália.
Na
Alemanha nazista, a causa era revogar as draconianas imposições do
Tratado de Versalhes, restaurar a economia e tornar novamente a Alemanha
uma potência militar, como um alemão poderia ser contra?
Ao
fim, a burguesia industrial dos doís paises viu suas fábricas reduzidas
a escombros e os ditadores liquidados levando junto o País que
governaram.
A
ditadura de "causas" é sempre um mau negócio para os países. De início,
todos apoiam a "causa" porque todos são a favor e ninguém é contra. Mas
sob a capa da "causa", se suprimem as garantias, hoje dos corruptos,
amanhã de todos e com a desculpa do combate à corrupção acabam todas as
liberdades e se toma o poder, sempre em nome da "causa", a boa desculpa,
afinal ninguém vai dizer que é a favor da corrupção, então quem combate
é sempre herói e vai ganhando Poder, ao fim as ditaduras são os mais
corruptos dos regimes.
Nos EUA a Comissão de Atividades
Anti-Americanas do Senado teve poderes semi-ditatoriais nos cinco anos
de sua força e prestígio, todos tinham medo do Senador Joseph McCarthy,
ele tinha uma "causa", salvar os EUA da infiltração comunista no governo
e na cultura, prendeu ou perseguiu mais de 1.000 cidadãos, destruiu a
vida de muitas dessas pessoas, alguns cometeram suicídio, outros, como
Charles Chaplin, tiveram que fugir do País, tudo isso aconteceu em nome
de uma "causa" que parecia patriótica e nobre, mas que na realidade era
apenas uma bandeira de um mau caráter. Mc Carthy usou o velho truque,
se você é contra Mc Carthy é porque voce é um comunista anti-americano.
No
seu avanço incessante, testando limites Mc Carthy tentou perseguir
militares do Exército e aí seu limite chegou, o Exército o barrou e o
desmascarou, Mc Carthy teve seu fim inglório.
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