Há trinco para porta arrombada?


Por Fernando Brito, Tijolaço

Os sinais de que “o piloto sumiu” – enquanto a crise nos aperta o cinto – estão mais do que evidentes.

A coluna de Vinicius Torres Freire, na Folha de hoje, é retrato disso e dela reproduzo um trecho:

Está um sururu na elite.

Empresários, economistas de proa e até banqueiros desesperam-se com uma recessão ainda pior do que imaginavam. As elites do Estado avacalham ou desmoralizam as instituições.
No universo que discute economia, passa-se a pedir “medidas” de modo meio atabalhoado, há grita contra os juros até entre insuspeitos de sempre do “mercado” e até mesmo cogita-se de aumentar impostos.
Curioso, para dizer a coisa de modo diplomático, é que esperassem desempenho melhor. O horror é grande, mas ainda parecido com o que era razoável esperar, dado o tamanho da desgraça e do plano aceito para atenuá-la. Onde estava todo mundo com a cabeça?

A utilização manifestamente política da Justiça, o acirramento do ódio provocado pelo inconformismo com a derrota eleitoral, a aliança oportunista entre conservadores, um ladrão público como Eduardo Cunha e os picaretas que ele agregou, a conspiração sórdida de um vice contra quem o elegeu, tudo isso fez que se partissem os sistemas de freios e contrapesos institucionais da democracia.

Ao depor Dilma, com nada além de alegações fabricadas, arrombaram a mais sagrada porta da democracia: o respeito ao voto popular.

Agora, o buraco negro da crise vai sugando tudo, política e economicamente. Perdido o peso da legitimidade, não há nada que não seja levado de roldão.

É tão incrível a sucessão de fatos, tão aguda a maneira em com que desqualificam a todos (e que todos se desqualificam, a si próprios), tão escancarada a ambição de tomar o poder, diante de um presidente tosco e fraco que, francamente, não é possível prever o que se passará com o Brasil.

Fizeram um sururu, as elites. Como sairão dele é algo que o lombo do povo sentirá.
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