Michel Temer decreta o fim da Ciência no Brasil logo
depois do desmonte da Educação. Soterramento das instituições de Ciência
impede a criação de uma política de meios e metas para a atividade
científica, como parte de um (inexistente) projeto nacional
Por Janio de Freitas, FolhaPress -
1- Estar atualizado,
no Brasil de hoje, é saudar o retrocesso. A rigor, nossos inovadores
fazem mais do que retrocessos, querem ir, e vão, além de estágios
degenerados do passado. Depois da “reforma do ensino” por medida provisória, uma e outra produzidas em cavernas não identificadas, o ataque volta-se contra a ciência e os cientistas.
Foram longas batalhas para criar e depois dar alguma organicidade ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Temer & associados, no entanto, depressa o soterraram sob um tal Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, uma salada de funções bastantes para impedir que qualquer uma seja cumprida.
Há pouco, deram seguimento à sua missão: a Academia
Brasileira de Ciência, a Sociedade Brasileira de Biofísica, a Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência, e outras entidades científicas,
denunciam o comprometedor rebaixamento, na hierarquia do novo
“ministério”, de numerosos conselhos, agências e comissões destinados a
alicerçar as atividades científicas.
Afastar mais as instituições de ciência
e a cúpula da administração impede a criação de uma política de meios e
metas para a atividade científica, como parte de um (inexistente)
projeto nacional. Além desse impedimento final, já o fluxo dos recursos
primordiais está obstruído, com entidades apenas capazes de mal se
manter, e vai piorar sob a compressão do pretendido “teto” de gastos.
2- Desde o final da apuração,
Marcelo Crivella tem repetido que “o Rio se manifestou contra o aborto, a
descriminalização das drogas e a discussão de gêneros” [sexuais]. É a
sua maneira de dar por iniciado o retrocesso, a título de cantar um
êxito que já foi chamado até de “avalanche!” na imprensa importante do
Rio. Mas falta fundamento tanto às suas afirmações, como aos comentários
impressionados com seu êxito e o que significaria.
A colaboração do PMDB
a Crivella deveu-se, na verdade, à falta de alternativa de Eduardo Paes
para o seu candidato inviável. Houve ainda a colaboração de Freixo,
decorrente de sua insuficiência para o desafio a que se propôs. E, se
alguém quiser discutir esses dois fatores, o terceiro é definitivo.
Como a soma de abstenções, votos brancos e nulos
totalizou 46,93% dos eleitores, índice brutal e nada surpreendente para o
desalento com os candidatos, Crivella e Freixo disputaram 53,07% do
eleitorado. Metade, na prática dos eleitores. E Crivella foi votado só
por pouco mais de metade daquela metade, ou 59,37% dos 53,07% votantes.
Logo, Crivella foi eleito por 31,5% do eleitorado
carioca total. Dizer que o Rio se manifestou em tal ou qual sentido, na
eleição em que esteve tão restringido nas possibilidades de escolha, não
é só o início imediato de um programa de governo escamoteado na
campanha. É, sobretudo, uma falácia. Como gesto inaugural, quase
doloroso.
Já a vitória do PSDB
foi maior do que o indicado pela aritmética das urnas e dos
comentários. Não em termos eleitorais ou geográficos, mas políticos e
ideológicos. Os êxitos do PPS e de parte do PSB fortalecem também o PSDB, do qual são como reboques.
Mas a tão cantada vitória peessedebista para a Prefeitura de Porto
Alegre, a primeira, tem pouco ou nada a ver com o partido. Basta
observar que o eleitorado de Porto Alegre elegeu apenas um vereador do PSDB. Mesmo elegendo o prefeito —evidente rejeição ao partido, por mais que lhe atribuam grande avanço gaúcho.
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