Por Mauro Donato, DCM -
O teto para uns, o céu aberto para outros.
Quando voltar de sua viagem à Asia (a quinta viagem internacional em
cerca de dois meses de governo golpista efetivo), Michel e Marcela Temer
irão cuidar da mudança para o Palácio da Alvorada. Antes, o quarto de
Michelzinho será ‘adaptado’.
O local também irá receber uma outra
adaptação para acomodar a primeira-dama em sua função de ‘embaixadora do
programa social Criança Feliz’. Marcela Temer não quis que seu gabinete
fosse no Palácio do Planalto, com vista para a Praça dos Três Poderes, e
preferiu trabalhar ‘em casa’. Como se vê, por Criança Feliz entenda-se
Michelzinho, que terá sua mãe trabalhando ali no quarto ao lado.
Quanto irá custar a brincadeira? O Planalto
não informa. O casal irá bancar a reforma do próprio bolso? Obviamente
que não. Mas… e a PEC do teto dos gastos públicos?
Sim, a PEC ainda não passou em definitivo,
ainda não está em vigor, mas essa ‘iniciativa’ dá o tom do que o governo
entende por economia com os gastos públicos. São os cortes que incidem
nos serviços que atendem ao povo, não aos aquartelados no poder. Ou em
um palácio de três andares, 10 mil metros quadrados de área construída e
8 quartos (sendo 4 suítes), nenhum estava bom o suficiente para
acomodar Michelzinho? Ele algum dia fará ideia de que existe gente que
dorme na calçada?
O abismo que existe entre a realidade do
povo e os representantes do poder é traduzido na existência – e no
obsceno luxo – de palácios. São realmente necessários? Estamos no
presidencialismo ou na monarquia?
A PEC 241 nada tem a ver com as necessidades
práticas para o exercício da função de presidente, é obvio. E se Temer
possui mulher, filho e o golden retriever Thor, que os leve junto para
sua nova moradia. Porém é impossível não se lembrar a todo momento de
medida tão demagógica e retrógrada em um governo como o de Michel Temer.
Como já perguntou Kiko Nogueira neste DCM: que tipo de governo faz um
banquete para aprovar corte no orçamento? Ou como bem lembrou Elio
Gaspari: “Para que a PEC dos gastos públicos seja eficaz, ela precisa
ter dentes afiados e disposição de morder, preferencialmente para cima.”
Alguém acredita nisso?
A emenda constitucional só irá sangrar na
carne do pessoal ‘de baixo’. Revoltante como há muito não se via, já vem
causando estragos antes mesmo de entrar em vigor. Uma brilhante
pesquisadora e coordenadora de estudos de saúde do IPEA (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada), Fabiola Sulpino, pediu exonaração. Ela é
autora de um estudo sobre o impacto negativo na área da saúde que a PEC
irá proporcionar nos próximos 20 anos. Hoje já temos uma técnica
competente a menos.
Como corre em um meme
por aí na internet, se fosse aplicada a uma família, a PEC 241 seria
uma medida que visa reduzir a comida dos filhos e cortar o remédio da
vovó para que o pai continue tomando whisky. Diante do descalabro,
talvez não seja o caso de sair dando uns tapas nos representantes do
poder público como fez uma senhora com Eduardo Cunha, ontem. Mas essas
Bastilhas em pleno século 21, que só servem para Micheizinhos e
Marcelinhas precisam ganhar outra finalidade.
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