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Ruínas do castelo de Newark, onde o Rei João morreu, possivelmente no portão da esquerda |
Seu caótico e desastroso reinado acabou em um banheiro - ou o que quer que servisse a esse propósito no castelo Newark em outubro de 1216.
Ao tirar a vida do rei, a disenteria (uma diarréia tão violenta que causa sangramento e morte) pode ter mudado de maneira espetacular o curso da história inglesa.
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João teria sido o responsável por matar o próprio sobrinho |
"Muitas pessoas pensam na Europa medieval como um lugar onde as coisas acontecem como (no seriado de TV) Game of Thrones. Mas havia regras, especialmente sobre como os nobres deveriam ser tratados. O rei João quebrou esses tabus. Era considerado por seus contemporâneos como cruel e covarde."
"Ele não apenas matou, ele foi sádico. Ele assassinou pessoas usando a fome. E não apenas cavaleiros inimigos, mas certa vez a mulher e o filho de um rival."
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Os banheiros e as instalações sanitárias eram muito básicas na Idade Média, mesmo nos castelos da aristocracia |
O monarca também ganhou a reputação de predador sexual das mulheres e filhas dos nobres e de tratar abusivamente aliados e rivais. Tudo isso irritou a elite.
Ele irritou tanto o papa Inocêncio III que o pontífice o excomungou e ordenou o fechamento de igrejas na Inglaterra.
Esse cenário levou o país a uma guerra civil e, posteriormente, ao estabelecimento da Magna Carta e ao oferecimento do trono ao príncipe Luis, da França.
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Nessa imagem, o rei João aparece sendo forçado a aprovar a Magna Carta |
Rumores atribuem sua morte a comer pêssegos verdes, beber muita cerveja ou ter sido intoxicado com o veneno de um sapo.
Iona McCleery, especialista em medicina medieval da Universidade de Leeds afirma: "Dizer que João morreu devido a excessos é uma forma de criticar sua personalidade. Isso implica destemperança, gula e imprudência."
"Dizer que ele foi envenenado mostra que ele era odiado. Qualquer que seja a verdade, aqueles que escreveram a história não tinham nada de bom a dizer sobre João".
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Apesar de ter causado uma guerra civil, o rei João teve direito a uma sepultura real na catedral de Worcester |
"A disenteria não era necessariamente uma doença de plebeus. Muitas hortaliças eram cultivadas em solo adubado com dejetos humanos", diz McCleery.
"João estava em uma marcha, lutando uma guerra, sob uma grande tensão. Ele estava provavelmente exausto fisica e emocionalmente e as condições de vida durante uma marcha são primitivas, não importa quem você seja."
Depois da morte de João a guerra civil terminou, o príncipe Luis, da França, foi expulso da Inglaterra. A estabilidade retornou e a Magna Carta se consolidou.
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Henrique V morreu em combate deixando uma criança como herdeira |
Mas a disinteria ainda faria parte do destino de outros reis ingleses.
Eduardo I, também conhecido como Longshanks ou "martelo da Escócia" (por ter liderado campanhas contra a nação vizinha), morreu enquanto se dirigia para iniciar uma nova guerra contra o rei da Escócia, Robert the Bruce, em 1307. Seu filho, Eduardo II, perdeu as batalhas seguintes e a Escócia manteve sua independência.
A disenteria também matou Henrique V, herói de Agincourt, durante uma campanha militar na França em 1422. Henrique VI se tornou rei aos nove meses de idade. Adulto, ele se provou pouco apto para reinar na violenta Idade Média.
A França foi perdida e rebeliões deram início à Guerra das Rosas, que dividiu a Inglaterra até 1485.
Mas a morte de João pode ter sido o maior impacto da disenteria na história do país. Marc Morris afirmou: "Muitos reis do passado podem ser considerados crueis pelos padrões atuais, mas João era cruel, covarde e um fracassado. Mas ao morrer naquele momento significou que a Magna Carta, que ele havia (assinado e depois) rejeitado, pôde ser reinstituída".
Ao declarar que o soberano também devia se submeter às leis e documentar as libardades dos "homens livres", a Magna Carta foi o fundamento dos direitos individuais na jurisprudência europeia e americana.
E mesmo que pareça uma doença do passado, a disenteria ainda é uma grande causa de mortes em países em desenvolvimento. A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 900 mil pessoas morram por disenteria ou por doenças semelhantes todos os anos. A maioria das vítimas são crianças pequenas.
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