Por Wanderley Guilherme dos Santos, Segunda Opinião -
O Brasil desencaixou. Desencaixou e
passou a rodar no fuso paraguaio. Lá, como se sabe, depois de peculiar
processo, o presidente Fernando Lugo foi impedido, assumindo o
vice-presidente. Também não amputaram a Lugo os direitos políticos.
Dizem os golpistas de lá, como os daqui, que o processo de impedimento
seguiu os trâmites legais, que não houve atentado à Constituição nem
violência física. Aqui, como também se sabe, os golpistas mantiveram os
ritos, não promoveram violência (as pancadarias de antes e de depois do
golpe não contam, claro) e garantiram direitos políticos à presidente
impedida.
Dizia o Carlos Marx que a história só
se repete como farsa; bela frase, mas um erro rotundo. A Segunda Guerra
Mundial reencenou tragicamente a Primeira, as duas resultando da
estúpida competição por mercados entre imperialismos expansionistas. A
guerra do Vietnã é a da Coréia, só que com inovação tecnológica: a bomba
de napalm, despejada sobre populações civis. O golpe brasileiro de 2016
não reprisa 1964, mas o paraguaio de 2002, em sua mais pura essência
política: uma condenação sem provas, os legisladores maculando o mandato
que detinham; uma concessão de direitos políticos que não possuíam
autoridade constitucional para outorgar. Garantir os direitos políticos
de Dilma Rousseff é tanto indício de golpe de Estado quanto cassar seu
mandato: o de reescrever a Constituição pela força tirânica de maioria
institucional.
O país ingressa em sua Idade Média. Os
conservadores dominam as instituições do Executivo, do Legislativo e do
Judiciário com base em inegável maioria ocasional. Não é por isso,
apenas, que são golpistas, mas pelo uso soberbo do poder. Assim como a
Idade Média e o absolutismo só foram unânimes pela repressão, o
conservadorismo hegemônico só se sustenta pela asfixia da divergência.
Asfixia de que não está ausente a chantagem da vida privada de alguns,
como bem a conhecem ilustres membros do Judiciário e do Legislativo, e
violência nas ruas, com a brutalidade que for necessária.
Só entregarão o poder por via democrática se, multiplicando fogueiras, não puderem evitá-lo.
0 comentários:
Postar um comentário