Três fábricas da Volks paradas: isso, sim, é real
Por Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho -
A notícia mais importante do dia na pauta da vida real dos brasileiros não está nas manchetes dos jornais, mas deveria, no momento em que convivemos com quase 12 milhões de desempregados. Só fui encontrá-la no pé da página A12 da Folha: "Volks paralisa suas 3 fábricas de carros no país". Enquanto isso, a pauta oficial se dedica a discutir uma hipotética e improvável candidatura à reeleição do interino Michel Temer em 2018, já desmentida pelo próprio, ao aumento de impostos para promover o ajuste fiscal, à renegociação da dívida dos Estados com a União, ao impeachment de Dilma e à cassação de Cunha, à reforma da Previdência e às novas operações e delações da Lava Jato. A brutal distância entre a pauta do Brasil da vida real e a pauta oficial de Brasília a cada dia aumenta mais, quase não há mais pontos de contato. Diz a notícia: "A Volkswagen paralisou a sua produção de carros no Brasil na segunda-feira (1º). As três fábricas da montadora, em Taubaté (SP), São Bernardo do Campo (SP) e São José dos Pinhais (PR), vêm sofrendo interrupções por problemas de abastecimento de componentes. Não há previsão de normalização da operação, de acordo com a companhia.
Segundo a Volks, desde o dia 15 de julho as três unidades tiveram a operação interrompida por falta de peças". Ficamos sabendo também, só agora, que desde março do ano passado a montadora teve mais de 100 dias de paralisação nas suas três unidades, deixando de produzir cerca de 90 mil carros. Alguém pode imaginar o que representa isso para a nossa combalida economia? Depois tem muita gente que ainda não entende porque a arrecadação federal não para de cair e o governo estuda a criação de novos impostos para o final deste mês. O que acontece numa montadora do porte da Volkswagen, que foi por longo tempo a maior do País, não diz respeito apenas a seus acionistas, funcionários e clientes, mas aos rumos da economia nacional. A matriz da montadora em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, inaugurada em 1959, hoje tem 13 mil funcionários (oito mil deles foram para casa ontem), mas já chegou a empregar quase 30 mil trabalhadores nos anos 1980, antes dos processos de automação e da crise econômica que se abateu sobre o País nos últimos tempos. Conheço bem esta história e tenho laços afetivos com a fábrica, desde que minha mãe foi trabalhar lá, em 1967, no mesmo ano em que iniciei minha carreira na grande imprensa, quando a Volkswagen comprou a DKW-Vemag, primeiro emprego que arrumou para sustentar a família, mesmo sem saber falar português direito, logo após a morte de meu pai. Foram mais de 30 anos na Volkswagen do ABC, apesar de morar em Cotia, bem longe dali, até ser aposentada compulsoriamente por limite de idade.
Com a maioria dos repórteres hoje confinada aos climatizados gabinetes das pautas oficiais ou pendurada aos telefones das redações, como vamos saber o que está acontecendo em outros chãos de fábrica ou nos campos de lavoura espalhados por esse imenso Brasil afora, que nos sustentam e dão empregos, governado a partir de Brasília, esta ilha da fantasia tão distante da nossa realidade?
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