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Feliciano e Felipe Neto |
Por Hermes Fernandes, DCM -
Dois Felipes causaram um terremoto nas redes sociais nesta semana.
Um, desmascarando a santa hipocrisia de um parlamentar evangélico. O
outro, sendo desmascarado publicamente pela esposa que o acusa de ser
homossexual e pedófilo. Apesar de distintos, tais fatos se conectam por
um elo: a maneira como a religião evangélica enxerga a homossexualidade.
Nem mesmo as saias justas do Felipe Neto inibiram a postura anacrônica de Marco Feliciano acerca do tema. O vlogueiro demonstrou ter feito o dever de casa ao disparar passagens bíblicas, recorrendo até aos textos originais. Chego a desconfiar que o rapaz tenha tido passagem por alguma igreja. Ou, no mínimo, pesquisou bastante antes de adentrar o gabinete do parlamentar.
Feliciano manteve-se firme até o fim, e o debate que começou com um pedido de desculpas de Felipe Neto pela maneira deselegante como se referiu ao deputado nas redes sociais, terminou com rasgação de seda do Feliciano, afirmando que suas filhas são fãs do vlogueiro. Aliás, gostei de saber que Felipe Neto é proveniente do Engenho Novo, o mesmo bairro carioca onde exerço a função pastoral.
Nada demove Feliciano da convicção de que homossexualidade seja pecado. Para Silas Malafaia, seu colega de púlpito e amigo particular, o que se constitui pecado é a prática homossexual. Portanto, se o indivíduo tiver desejos homossexuais, mas não chegar às vias de fato, ele não estará pecando propriamente. Esta posição tem sido quase unanimidade entre os evangélicos no Brasil. Não importa o que se sente, mas apenas o que se faz, o que, a meu ver, parece destoar da proposta original de Cristo, que num dos seus mais importantes sermões, afirmou que se um homem desejasse uma mulher que não fosse sua, em seu coração já teria adulterado, ainda que isso jamais se consumasse.
Ele também disse que se nutríssemos um sentimento de ódio contra nosso semelhante, isso nos tornaria homicidas aos olhos de Deus. É do coração que brotam todas as coisas, boas e ruins. Mas para os que se dizem porta-vozes da moral cristã, o que importa é a aparência, e não o que é sentido no coração.
Portanto, se a prática homossexual for pecaminosa, teremos que admitir que o desejo homossexual também o seja. Assim também, se o desejo homossexual não é pecaminoso em si, então, sua prática também não o é.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, eles ensinam que tanto o amor, quanto o perdão, não são sentimentos, mas meramente atitudes. Portanto, devo declarar ter perdoado a meu ofensor, mesmo que meu coração ainda esteja magoado. Devo afirmar que amo, mesmo não amando. Os que abusam de tal ensino chegam a dizer que se deve confessar uma cura, ainda que esta não tenha ocorrido. Tudo isso em nome de uma fé divorciada do amor. O que estes gurus evangélicos ensinam como verdade, Jesus chamou de hipocrisia.
E o que tudo isso tem a ver com a traumática separação da pastora Bianca Toledo? Tudo! Bianca vinha de uma separação também traumática quando conheceu Felipe. Seis meses após a separação, eles se casavam sem terem dado um único beijo durante o namoro. Tornaram-se os queridinhos da família tradicional evangélica e garotos-propaganda do movimento “Eu escolhi esperar”.
O fato de ter se recuperado de uma enfermidade mortal era a prova de que Deus poderia reverter qualquer quadro. E o fato de ter reconstruído sua vida amorosa depois da primeira separação era a prova de que o mesmo Deus que a teria “ressuscitado”, também ressuscitaria sonhos.
Resultado: Bianca se tornou campeã de vendas de DVDs, CDs e livros nos quais relata seu testemunho. Seu segundo casamento se tornou num modelo a ser copiado. Ela e seu marido eram onipresentes no instagram com fotos perfeitas que lembram famílias de comercial de margarina. Suas viagens eram acompanhadas por milhares de fãs pelo snapchat.
Tudo corria mil maravilhas até que… boom! A verdade teria vindo à tona. De acordo com Bianca, seu marido confessou-lhe sua homossexualidade, e como se não bastasse, tentou suicídio após confessar ter abusado de seu filhinho de apenas 5 anos.
O assunto tomou as redes sociais de assalto. Só se falou nisso ao longo da semana. E uma das frases mais ditas foi “a máscara caiu”. E o pior é que isso é dito em tom de comemoração. Surge daí uma pergunta que não quer calar: Quem foi mesmo que forneceu a máscara? Em que baile de máscaras ele costumava desfilar?
Quem dera os cristãos finalmente entendessem o que o apóstolo Paulo intentava dizer ao declarar que onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade. Não se trata, como muitos pensam, de liberdade para cultuar do jeito que bem entendermos, pulando, dançando, plantando bananeira, etc. E sim, liberdade para ser o que se é, sem receio de ser julgado por quem quer que seja.
Todos somos seres em fase de acabamento. Ou se preferir usar uma expressão filosófica, somos um devir. Ninguém está pronto. Por isso, Paulo é incisivo: se almejamos tornar-nos seres humanos melhores, temos que nos manter com “o rosto descoberto” enquanto transitamos num ambiente impregnado de liberdade, amor e respeito mútuo.
Sob as máscaras fornecidas pela religião, monstros eventualmente se formam. Se vivessem na luz, não haveria ambiente propício a isso.
Se Felipe Heiderich é, de fato, um homossexual, jamais deveria ter se casado com uma mulher. Em compensação, provavelmente não teria sido acolhido pela igreja.
No fundo, não temos nada contra homossexuais, desde que permaneçam no armário e não nos importune. Santa hipocrisia, batman! Se contraírem matrimônio com pessoas do sexo oposto, melhor ainda. Isso provaria que nossa teoria de cura gay está correta. Mas é aí que as coisas mudam de figura.
Forja-se uma conversão (não apenas religiosa, mas sexual), e, para provar estar “curado”, casa-se e passa a viver uma mentira. Muitas vezes, o cônjuge é cúmplice. Noutras tantas, é vítima.
Por favor, parem com esta ladainha que insiste em vincular homossexualidade à pedofilia. Ser homossexual não é crime. Apesar de muitos acharem que é pecado. Porém, pedofilia é tanto crime quanto pecado. Ademais, está estatisticamente comprovado que raramente o abuso de crianças é perpetrado por homossexuais. Geralmente, são praticados por héteros. Se abusou de uma criança, deve ser preso, mas não odiado por quem deveria amá-lo.
O estuprador, o pedófilo, ou qualquer outro criminoso, não podem escapar do rigor da lei. O que não significa que devam ser alvo de nosso ódio e desprezo.
São seres humanos, tão carentes da misericórdia divina quanto cada um de nós.
A julgar pela reação de boa parte dos cristãos, não foi só a máscara do tal pastor que caiu, mas a de todos eles. Todo amor que pregamos foi por terra abaixo. Nosso desejo de vingança depôs contra nós, tanto perante a sociedade, quanto perante o próprio Deus.
Permitam-me, agora, uma opinião sincera sobre a postura da pastora, considerada por muitos, corajosa. Teria sido ela cúmplice ou vítima de toda esta situação?
Nem mesmo as saias justas do Felipe Neto inibiram a postura anacrônica de Marco Feliciano acerca do tema. O vlogueiro demonstrou ter feito o dever de casa ao disparar passagens bíblicas, recorrendo até aos textos originais. Chego a desconfiar que o rapaz tenha tido passagem por alguma igreja. Ou, no mínimo, pesquisou bastante antes de adentrar o gabinete do parlamentar.
Feliciano manteve-se firme até o fim, e o debate que começou com um pedido de desculpas de Felipe Neto pela maneira deselegante como se referiu ao deputado nas redes sociais, terminou com rasgação de seda do Feliciano, afirmando que suas filhas são fãs do vlogueiro. Aliás, gostei de saber que Felipe Neto é proveniente do Engenho Novo, o mesmo bairro carioca onde exerço a função pastoral.
Nada demove Feliciano da convicção de que homossexualidade seja pecado. Para Silas Malafaia, seu colega de púlpito e amigo particular, o que se constitui pecado é a prática homossexual. Portanto, se o indivíduo tiver desejos homossexuais, mas não chegar às vias de fato, ele não estará pecando propriamente. Esta posição tem sido quase unanimidade entre os evangélicos no Brasil. Não importa o que se sente, mas apenas o que se faz, o que, a meu ver, parece destoar da proposta original de Cristo, que num dos seus mais importantes sermões, afirmou que se um homem desejasse uma mulher que não fosse sua, em seu coração já teria adulterado, ainda que isso jamais se consumasse.
Ele também disse que se nutríssemos um sentimento de ódio contra nosso semelhante, isso nos tornaria homicidas aos olhos de Deus. É do coração que brotam todas as coisas, boas e ruins. Mas para os que se dizem porta-vozes da moral cristã, o que importa é a aparência, e não o que é sentido no coração.
Portanto, se a prática homossexual for pecaminosa, teremos que admitir que o desejo homossexual também o seja. Assim também, se o desejo homossexual não é pecaminoso em si, então, sua prática também não o é.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, eles ensinam que tanto o amor, quanto o perdão, não são sentimentos, mas meramente atitudes. Portanto, devo declarar ter perdoado a meu ofensor, mesmo que meu coração ainda esteja magoado. Devo afirmar que amo, mesmo não amando. Os que abusam de tal ensino chegam a dizer que se deve confessar uma cura, ainda que esta não tenha ocorrido. Tudo isso em nome de uma fé divorciada do amor. O que estes gurus evangélicos ensinam como verdade, Jesus chamou de hipocrisia.
E o que tudo isso tem a ver com a traumática separação da pastora Bianca Toledo? Tudo! Bianca vinha de uma separação também traumática quando conheceu Felipe. Seis meses após a separação, eles se casavam sem terem dado um único beijo durante o namoro. Tornaram-se os queridinhos da família tradicional evangélica e garotos-propaganda do movimento “Eu escolhi esperar”.
O fato de ter se recuperado de uma enfermidade mortal era a prova de que Deus poderia reverter qualquer quadro. E o fato de ter reconstruído sua vida amorosa depois da primeira separação era a prova de que o mesmo Deus que a teria “ressuscitado”, também ressuscitaria sonhos.
Resultado: Bianca se tornou campeã de vendas de DVDs, CDs e livros nos quais relata seu testemunho. Seu segundo casamento se tornou num modelo a ser copiado. Ela e seu marido eram onipresentes no instagram com fotos perfeitas que lembram famílias de comercial de margarina. Suas viagens eram acompanhadas por milhares de fãs pelo snapchat.
Tudo corria mil maravilhas até que… boom! A verdade teria vindo à tona. De acordo com Bianca, seu marido confessou-lhe sua homossexualidade, e como se não bastasse, tentou suicídio após confessar ter abusado de seu filhinho de apenas 5 anos.
O assunto tomou as redes sociais de assalto. Só se falou nisso ao longo da semana. E uma das frases mais ditas foi “a máscara caiu”. E o pior é que isso é dito em tom de comemoração. Surge daí uma pergunta que não quer calar: Quem foi mesmo que forneceu a máscara? Em que baile de máscaras ele costumava desfilar?
Quem dera os cristãos finalmente entendessem o que o apóstolo Paulo intentava dizer ao declarar que onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade. Não se trata, como muitos pensam, de liberdade para cultuar do jeito que bem entendermos, pulando, dançando, plantando bananeira, etc. E sim, liberdade para ser o que se é, sem receio de ser julgado por quem quer que seja.
Todos somos seres em fase de acabamento. Ou se preferir usar uma expressão filosófica, somos um devir. Ninguém está pronto. Por isso, Paulo é incisivo: se almejamos tornar-nos seres humanos melhores, temos que nos manter com “o rosto descoberto” enquanto transitamos num ambiente impregnado de liberdade, amor e respeito mútuo.
Sob as máscaras fornecidas pela religião, monstros eventualmente se formam. Se vivessem na luz, não haveria ambiente propício a isso.
Se Felipe Heiderich é, de fato, um homossexual, jamais deveria ter se casado com uma mulher. Em compensação, provavelmente não teria sido acolhido pela igreja.
No fundo, não temos nada contra homossexuais, desde que permaneçam no armário e não nos importune. Santa hipocrisia, batman! Se contraírem matrimônio com pessoas do sexo oposto, melhor ainda. Isso provaria que nossa teoria de cura gay está correta. Mas é aí que as coisas mudam de figura.
Forja-se uma conversão (não apenas religiosa, mas sexual), e, para provar estar “curado”, casa-se e passa a viver uma mentira. Muitas vezes, o cônjuge é cúmplice. Noutras tantas, é vítima.
Por favor, parem com esta ladainha que insiste em vincular homossexualidade à pedofilia. Ser homossexual não é crime. Apesar de muitos acharem que é pecado. Porém, pedofilia é tanto crime quanto pecado. Ademais, está estatisticamente comprovado que raramente o abuso de crianças é perpetrado por homossexuais. Geralmente, são praticados por héteros. Se abusou de uma criança, deve ser preso, mas não odiado por quem deveria amá-lo.
O estuprador, o pedófilo, ou qualquer outro criminoso, não podem escapar do rigor da lei. O que não significa que devam ser alvo de nosso ódio e desprezo.
São seres humanos, tão carentes da misericórdia divina quanto cada um de nós.
A julgar pela reação de boa parte dos cristãos, não foi só a máscara do tal pastor que caiu, mas a de todos eles. Todo amor que pregamos foi por terra abaixo. Nosso desejo de vingança depôs contra nós, tanto perante a sociedade, quanto perante o próprio Deus.
Permitam-me, agora, uma opinião sincera sobre a postura da pastora, considerada por muitos, corajosa. Teria sido ela cúmplice ou vítima de toda esta situação?
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