Por que as ruas permanecem silenciosas?


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Algumas razões são conjunturais.

O anúncio das medidas de destruição dos direitos sociais e aniquilamento dos setores públicos de educação e saúde, entre outros; liquidação de empregos industriais qualificados e duvidosa recuperação dos investimentos em infraestrutura, agora a cargo de firmas estrangeiras – elas todas vem sendo feia com habilidade, incerteza, de forma confusa e sem o suporte do único meio de comunicação eficiente do país, a Rede Globo de Televisão.

Fatores diversionistas estão sendo acionados – de anúncios otimistas ao clima de inquérito policial que domina os noticiários – sempre em busca de culpados pelo que vão fazer e sabem criminoso.

A medida mais séria – o congelamento da economia – será sentida gradualmente. A liquidação dos direitos trabalhistas atingirá primeiro as categorias menos organizadas.

[Os americanos são fantásticos em estratégias de controle da opinião pública. Estudo o assunto há 50 anos]

Mas há outro fator: a recessão que se manifesta em estados-chaves (Rio, RS etc.) e o temor difuso de um futuro de incerteza.

A situação repete o quadro psicológico da recessão. Nele, preocupados com a sobrevivência, os trabalhadores se recolhem.

O maior exemplo foi o da era vitoriana da Europa do Século XIX, após a guerra franco-prussiana, a comuna de Paris e a queda de Napoleão III. Os bancos da City impuseram forte recessão, forçaram diáspora de europeus (para a América, Oceania, África, Oriente distante), dirigiram investimentos para objetivos distantes (suntuários, artísticos, científicos, arquitetônicos, típicos da belle époque).

A era de agitação que marcara a revolução industrial regrediu em um silêncio social espantoso. Não que houvesse adesão ou aceitação. O que se formou foi uma multidão rancorosa, racista, movida por medo e ódio. Sua face ganhou traços de loucura e crime na frenologia, falsa ciência da época, e seu caráter malévolo e incontrolável, sua grosseria e irascibilidade geraram dois livros muito importantes, “A multidão criminosa”.de Scicpio Sighele, e “Psicologia das Massas”.de Gustave Le Bon – em 1894-1895.

É para conter a massa rancorosa descrita nessas obras de cabeceira dos criadores – nazistas e liberais – das modernas técnicas de controle de opinião, que se estabeleceram os estreitos limites em que cabe hoje a palavra democracia.

*Nilson Lage é professor de Jornalismo, aposentado, da UFRJ e da Federal de Santa Catarina. É autor, entre outros muitos livros, de  “Controle da Opinião Pública – Um ensaio sobre a verdade conveniente”, Editora Vozes, 1998.
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