Do blog do Marcelo Auler, o artigo do Subprocurador-geral da República Eugenio Aragão, ex-ministro da Justiça:
Já o dizia meu saudoso pai: os
ignorantes usam o punho, enquanto os inteligentes usam a cabeça. Em
outras palavras, o punho do ignorante entra em cena, quando seus
paupérrimos argumentos se esgotam.
A batalha campal ocorrida terça-feira
(29/11) em Brasília é um evidente sinal do desgoverno que tomou conta
do Brasil depois do golpe parlamentar.
Um grupinho se incrustou nos palácios
e ministérios da capital, sem capacidade de diálogo e de minimamente
convencer a sociedade atônita sobre seus propósitos. Prefere mandar a
“puliça” atacar indefesos manifestantes a se dar ao esforço da
argumentação. Até porque argumentos não há que sustentem a degradação do
Brasil a uma republiqueta de atores políticos vaidosos, ambiciosos e
gananciosos.
Não há mais projeto nacional, não há
metas nem de curto, nem de médio e nem de longo prazo. A economia está à
deriva, por se interessarem seus gerentes públicos apenas por
satisfazer as pretensões egoístas de rentistas e especuladores.
Ontem um amigo empresário do Norte me disse que a exportação de gado brasileiro caiu 90% e o setor está em polvorosa.
Com certeza não é um problema de
falta de demanda externa, mas sim da mais tosca incompetência do
desgoverno, incapaz de abrir novos mercados e de manter os já
consolidados.
A comissão de comércio exterior da
Federação Russa, por exemplo, insistiu em vão em se reunir com os
técnicos do Sr. José Serra e não recebeu nenhuma confirmação sobre data
que estava ficada, desde tempos, para dezembro. A reunião, parece, ficou
para depois do carnaval.
A Embraer atravessa séria crise, de
modo a demitir centenas de seus empregados especializados. Os estaleiros
construídos para atender às demandas de equipamentos naval para
exploração do pré-sal estão estagnados. Milhares de empregos foram
riscados do mapa. O governo resolveu desistir do conteúdo nacional no
setor.
O Almirante Othon, pai da energia
nuclear brasileira foi colocado atras das grades, condenado a 43 anos de
reclusão, mais do que a Sra. Susanne Richthofen, que fez matar pai e
mãe.
E, no entanto, pouco interessou aos
ávidos acusadores que a administração de meios nessa área
estrategicamente sensível não se pode fazer por rotinas comuns,
transparentes. Afinal, certos insumos para o programa não se adquirem
pela internet pagando com Pay-Pal. Mas isso é muito complexo para
procuradores ameganhados.
Ao mesmo tempo, assistimos um
assombrador crescimento de grupos fascistas na sociedade. Pessoas
embrutecidas pelo vício de uma linguagem violenta nas redes sociais se
distraem colocando para fora seu ódio contra as forças democráticas. Sua
presença, ontem, no banzé organizado pela “puliça” na esplanada dos
ministérios, mostra sua disposição de jogar o país no caos. O “quanto
pior melhor” só os aproveita. E quem apanha é a multidão pacífica que
teve seu ato infestado por atos de provocação dos brucutus
bolsonaristas.
Enquanto isso o Judiciário e o
ministério público estão mais preocupados com seus umbigos, temerosos de
qualquer iniciativa legislativa que os venha chamar à responsabilidade.
Não se vê ação contra esse massacre
aos direitos individuais e coletivos, mas somente a cantilena do
“combate” à corrupção, do julgamento falso-moralista da classe política,
como se o Brasil só agora tivesse despertado para as mazelas do
financiamento eleitoral e partidário.
Juízes, nestes tristes tempos, falam
pelo cotovelo. Emitem juízos antecipados sobre processos em curso e até
se sugerem a deputados e senadores como seus conselheiros…
impressionante a ousadia da burocracia sobre a democracia. O poder que
emana do povo já lhes deixou de ser sagrado há muito.
Não há luz no fim do túnel. A única
saída desse estado desesperador é a organização da sociedade civil, para
que tome em suas mãos a defesa da Constituição-Cidadã e exija a mudança
urgente do desgoverno por um governo legítimo saído das urnas.
Essa demanda urgente não pode ser
desvirtuada com a de setores pouco afeitos à democracia que namoram numa
eleição indireta em 2017. Tratar-se-ia de mais um golpe dentro do
golpe, para manter a sociedade longe do comando sobre seu destino.
Também não podemos contar com um
proativo Supremo Tribunal Federal que venha a reinstituir a presidenta
destituída à traição, pois essa corte mais está preocupada com sua
própria imagem na mídia conservadora que ajudou a tramar o golpe contra a
constituição.
Tenhamos, pois, esses dois objetivos
claros em mente: a defesa da carta maior gestada numa constituinte
eleita e a realização já de eleições para presidente. É o único meio de o
Brasil sair do lamaçal em que os golpistas o jogaram.
E quanto aos inimigos da democracia,
terão que pagar por seus atos covardes perante a História, que saberá
avaliar a gravidade da conspiração por eles praticada contra o País.
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