A nota 10 de Nadia Comaneci: o dia em que o esporte alcançou a perfeição

Final da série de Nadia Comaneci nas barras assimétricas, que rendeu o histórico dez
Um momento mágico dos Jogos Olímpicos completou 40 anos nesta semana: o dia em que Nadia Comaneci voou direto para a história com seu último movimento nas barras assimétricas.

Da BBC -

Naquele 18 de julho de 1976, ela finalizava uma série com execução impecável, na qual combinou com perfeição sua graça corporal a uma técnica jamais vista. Foi a primeira nota dez da história da ginástica artística.

Foram menos de 20 segundos de série, mas eles seguem sendo lembrados e admirados quatro décadas depois.

"Às vezes passa devagar para você, apesar de a rotina ser muito rápida. É movimento atrás de movimento, segundo atrás de segundo", lembrou Comaneci ao falar da atuação histórica.

Placar não conseguiu indicar pontuação perfeita porque só tinha três dígitos
"Eu não era dessas que olhava para o placar imediatamente depois de uma série, mas lembro que havia um barulho inacreditável do público", contou ela em uma entrevista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

"Nesse momento eu não sabia o que estava acontecendo, porque o marcador só tinha três dígitos e o que mostrava era 1.00. Não havia espaço para um 10".

A atleta relatou que não sabia que aquele feito era inédito, mas entendia que era a pontuação mais alta possível.

"Eu fiquei muito feliz. É como estar na escola e tirar um 10 em matemática."

Inocência

Comaneci tinha 14 anos quando disputou os Jogos de Montreal e tem certeza que isso foi algo que a beneficiou.

Comaneci conseguiu um total de sete notas dez em Montreal
"Quando saí da Romênia, disse a um jornalista que esperava ganhar uma medalha e, se possível, de ouro", contou ela, que em 1989 deixou o então país comunista e se radicou nos Estados Unidos.

"Sabia que tinha capacidade de fazer uma série perfeita, mas conseguir durante os treinos e fazer na frente de 15 mil pessoas são duas coisas diferentes."

"Quando penso nisso, acho que minha idade ajudou, porque você não sabe de muita coisa quando é criança."

"Você não tem medo. Também fui sem saber o que havia fora do mundo da ginástica, por isso não sentia a pressão que recai sobre os principais atletas das grandes competições."

Ela diz que com o tempo ficou mais emotiva em relação àquela competição histórica.

"Com o passar dos anos, aquilo se torna muito mais valioso. Eu entendo muito melhor como aquilo foi importante."

Além do dez perfeito nas barras assimétricas, Comaneci conseguiu a nota máxima em outras seis ocasiões, ganhando três medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze.

Comaneci, que deixou a Romênia em 1989, tem hoje 54 anos
Em Moscou, quatro anos depois, ganhou outras quatro medalhas.

"Acredito que é mais importante conseguir coisas pequenas a cada dia e isso te encaminhará a uma direção que te permitirá alcançar coisas maiores no futuro", avalia.

"Eu sempre disse que desejava ganhar uma medalha olímpica. E ganhei nove."
Depois de Comaneci, outras ginastas conseguiram a marca perfeita.

Mas essa façanha do esporte é algo ao qual não se pode mais aspirar.

Em 2006, a Federação Internacional de Ginástica decidiu modificar o sistema de pontuação porque muitos atletas estavam tirando boas notas fazendo uma série com dificuldade mínima e boa execução.

Assim, os que faziam séries mais difíceis e inovadoras - e, por isso, com mais erros - acabavam com notas mais baixas.

Agora, as notas são divididas entre execução, que vale 10, e dificuldade, que não tem limite máximo. As notas são somadas e esta é a pontuação final.

É um sistema mais difícil para o público entender, porque não há uma nota máxima. Mas, seguindo a federação, pode encorajar os atletas a inovarem e arriscarem mais.
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