A atualidade de The Beaver (2011)


Por Fábio de Oliveira Ribeiro, GGN -

Este filme dirigido por Jodie Foster, que me foi sugerido por um leitor do GGN, trata de um problema grave (a depressão e suas consequencias para a família do deprimido) de forma bem humorada. Não é histórico e detalhista como o filme Um Método Perigoso (2011), mas tem uma virtude: a verossimilhança  socio-cultural atual dos personagens.

Encontrar o caminho de volta para a realidade não é uma tarefa fácil. E nunca pode ser trilhado na solidão. Walter Black, personagem de The Beaver (2011), volta a se relacionar com os demais através de um personagem. Este ato de recriação psicológica é diferente do que ocorre com Sabina Nikolayevna Spielrein. A paciente de Jung é conduzida pelos labirintos da histeria até retornar ao trauma infantil e conseguir ajustar sua personalidade de maneira a se relacionar com o mundo de forma produtiva.

O castor, personagem criado por Walter Black, também se torna produtivo e passa a se relacionar com o mundo de maneira lucrativa. Mas ele acaba se esgotando e isto afeta de maneira negativa Walter Black. A substituição de um personagem por outro não produz equilíbrio psicológico duradouro, apenas a renovação do processo social que levou  Walter a ficar deprimido.

Jung ajuda Sabina Spielrein  a encontrar seu caminho até a realidade. Walter Black encontra a si mesmo através do castor, mas depois não consegue fazer seu novo personagem voltar a ser uma ficção. Realidade e ficção são domínios distintos: a porta de comunicação entre ambos deve ser controlada por cada um de nós.

Walter Black corta o próprio braço para se livrar do castor. O personagem de The Beaver, um suicida fracassado, realiza no personagem que ele criou a morte que pretendia para si mesmo. Após recuperar o controle de si e provocar alguns problemas para Jung, Sabina Spielrein fez medicina e se tornou psicanalista.  A cura pela mutilação não me parece muito aconselhável. A superação da doença psicológica mediante tratamento e auto ilustração científica pode ser menos dolorosa e mais saudável.

The Beaver, porem, tem o mérito de dramatizar o fracasso de maneira bem sucedida. A civilização ocidental, especialmente aquela que manufatura “heróis pasteurizados” para consumo cotidiano no cinema e na TV, não tem espaço para fracassados. E justamente por isto, ela produz deprimidos em quantidades assustadoras ao rejeitar de maneira doentia um fato da vida: a dor faz parte da existência humana, o sucesso nunca é permanente.
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