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Internautas acompanharam ao vivo suicídio de jovem francesa transmitido pelo Periscope
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O suicídio de uma jovem francesa transmitido ao vivo pelo Periscope,
aplicativo de difusão instantânea de vídeos, relançou na França a
polêmica sobre os desvios e a falta de controle do que é divulgado nas
redes sociais.
Océane, 19 anos, filmou os instantes em que se atirou na frente de um
trem suburbano em Egly, no sul de Paris, sob os olhares de inúmeros
internautas no Periscope, aplicativo comprado pelo Twitter em 2015,
bastante utilizado por adolescentes e com estimados 10 milhões de
usuários.
No vídeo do suicídio, que dura 29 minutos, a jovem,
segundo comentários de internautas que assistiram às imagens, teria
acusado o ex-namorado de tê-la estuprado e divulgado a agressão no
aplicativo Snapchat.
Ao ver que a jovem se aproximava dos trilhos
do trem, alguns internautas perceberam o risco da situação e tentaram
convencê-la de não se matar.
Outros alertaram o Periscope e ligaram para números de emergência.
Após
Océane ter se atirado sob o trem, a tela se tornou escura, mas os
internautas, cada vez mais numerosos, podiam ouvir os gritos de horror
das testemunhas na estação.
Um bombeiro apareceu na imagem, com um trem atrás dele. Ele pegou o telefone da jovem e o desligou.
“Os
jovens se definem hoje por meio da imagem e do que eles mostram de si
mesmos, sobretudo nas redes sociais, onde a palavra mais difundida é ser
popular”, afirma o psiquiatra Xavier Pommereau, do hospital de Bordeaux
e autor do livro O Gosto do risco na adolescência.
Para o psiquiatra, o aplicativo pode ter contribuído para amplificar o desejo da jovem de passar à ação.
“Sem
ter consciência, ela capturou os olhares de testemunhas que podem ficar
traumatizadas. Os internautas se tornaram reféns de um drama", diz
Pommereau, que destaca também o risco de fenômenos de imitação.
“Não
se trata de proibir as redes sociais. Mas é necessário ter mais
moderadores para antecipar os perigos. A internet é um oceano, mas mesmo
isso não impede que existam regras", opina.
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Jovem que transmitiu suicídio foi descrita por pessoas próximas como "frágil psicologicamente"
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'Risco de chocar'
A jovem,
descrita por pessoas próximas como frágil psicologicamente, havia
transmitido ao vivo cinco vídeos no dia de seu suicídio, na terça-feira.
Em
um deles, que dura quase uma hora, filmado em seu apartamento e visto
por mais de mil pessoas, ela fala sobre coisas banais e repete várias
vezes que haverá um novo bate-papo mais tarde.
“O vídeo que farei
não é para viralizar. É para fazer as pessoas reagirem e para transmitir
uma mensagem. Tem a ver com alguém”, disse a jovem ao marcar novo
encontro.
“Quero que a mensagem seja compartilhada, mesmo que choque, é o
objetivo. O que vai acontecer corre o risco de ser chocante. Se houver
menores (de idade), não fiquem (conectados à sua página no Periscope)”,
afirmou Océane.
“Não fazemos comentários sobre contas individuais
por respeito à vida privada e razões de segurança”, declarou um
porta-voz do Twitter, dono do Periscope, ressaltando que os vídeos da
jovem foram retirados do aplicativo.
Mas algumas capturas de tela,
logo após o instante do suicídio, foram publicadas no YouTube, como
também outro vídeo da jovem antes de sua morte.
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Periscope esteve ligado a outras polêmicas na França envolvendo insultos homofóbicos
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Outras polêmicas
Recentemente, o
Periscope esteve ligado a outras polêmicas na França, como a dos os
insultos homofóbicos feitos pelo jogador do PSG, Serge Aurier, contra o
treinador, Laurent Blanc, e outros jogadores do time.
Em março, o
presidente francês, François Hollande, também foi insultado ao vivo por
internautas no Periscope durante visita a uma empresa.
Dois
adolescentes em Bordeaux agrediram violentamente um homem na rua,
escolhido por acaso, após prometerem, no Periscope, que se a transmissão
ao vivo tivesse 40 espectadores, eles deixariam a pessoa “nocauteada”. O
vídeo foi assistido por 1,5 mil internautas.
A Justiça francesa abriu investigações para apurar as circunstâncias
do suicídio de Océane. Nesta sexta-feira, o ex-namorado da jovem foi
interrogado, segundo o Ministério Público de Évry. Ele está em
liberdade.
Os investigadores ainda não dispõe do vídeo do suicídio, que deve ser obtido nos próximos dias.
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