Toledo: Temer, “meio-presidente” e seu teste nas Olimpíadas


Por Fernando Brito, Tijolaço -

Cada vez mais leitura indispensável, José Roberto de Toledo, hoje, no Estadão, traça um quadro tão preciso quanto cruel do dilema vivido por Michel Temer: quer ser tudo e ainda é quase nada, uma “bucha” para a retirada de Dilma do poder, subcondição da qual pretende ascender com o que ele acha que será sua legitimação: a consumação do crime no Senado.

“Michel Temer quer ter legitimidade como presidente. Parece que só pensa nisso. Age como titular, mas sofre como interino. Pois assim é tratado pelos pares daqui e de acolá. A formalidade, que tanto preza, obriga o silêncio diplomático. Como resultado, é formalmente ignorado. Não visita nem recebe chefes de Estado no palácio. Nem sequer tem conversações formais com presidentes, pelo menos que possam ser divulgadas (e é isso que interessa). 
 
Resta-lhe sonhar com seu début internacional, com sua primavera presidencial. Quando setembro chegar, pretende ir à China – e lá fazer negócios proverbiais: vender bifes e aviões. Quem sabe o que mais? Passear por palácios milenares? Passar tropas em revista? Jantar pato laqueado? Posar para câmeras internacionais apertando a mão do governante de uma potência mundial como se fossem iguais? Quimeras, fantasias. Até lá, a realidade é dura.
 
Enquanto setembro não chega, Temer tem que receber pessoalmente Eduardo Cunha e achar bacana. Tem que esperar ministro pego com a boca na botija pedir demissão porque não tem autonomia nem para demiti-lo. Tem que nomear quem lhe encomendam sem reclamar – e não nomear substitutos para os ex-ministros porque eles ainda acalentam a esperança de voltar. E dar aumentos, e liberar verbas, e bajular senadores e adular governadores. Às pencas.”

Toledo diz que Temer julga que ” condenação e o impedimento” de Dilma  o ” livrará não só do epíteto de vice como poderá [fazer com que ele possa] usufruir de toda pompa e circunstância que a interinidade lhe nega”.

Pode conseguir ambos, mas também se marcará de foma mais profunda o estigma da traição e da ilegitimidade que carrega. Ambos, perdoados na bonança, costumam na crise serem trágicos ácidos a dissolver a governabilidade: Sarney, no pós Cruzado, Collor no pós confisco; FHC no pós “um dólar = um real” e, bem recente, a própria Dilma no pós Levy.

Sua ânsia para que setembro cheque é proporcional à irresponsabilidade com que a administração e as políticas vão sendo  tratadas por seu governo.
O rombo foi elevado e “repetido” para, ao menos o ano que vem. No mínimo, porque parte dele são despesas permanentes, cujo o impacto se estenderá por anos e anos.

As benesses concedidas também encheram de água a boca seca de administradores públicos e já começam as ginásticas para ver como acomodar os governadores do Nordeste na mesma canoa de bilhões estendida ao Rio para que não naufragasse antes das Olimpíadas.

Que lhe serão, aliás, uma talvez derradeira saia-justa antes de abocanhar definitivamente a presidência: a abertura das Olimpíadas que, neste momento, sofram com denúncias de corrupção, tensão com a situação do Rio e quórum  baixo de presença para o que se esperava fosse uma delegação de uma centena de chefes de Estado.

Nesta “prova”, Michel Temer não poderá fazer forfait e escudar-se no “pobre de mim, sou apenas um vice”, diz Toledo.

Enquanto setembro não chega, Temer terá um momento de titular, porém. Será às 20h do dia 5 de agosto, no estádio do Maracanã. Dividirá a tribuna presidencial com as autoridades do Comitê Olímpico Internacional durante a abertura dos Jogos. Ao seu lado, além de toda a entourage do Executivo, Legislativo e Judiciário, o governo espera reunir até 60 chefes de Estado. Abaixo dele, na tribuna de honra, Dilma deve marcar presença.
 
Será a maior exposição internacional de Temer – e seu maior teste de popularidade ao vivo. Nem sempre é bom ser titular.

Se Dilma, claro, for, porque tem todas as razões para não ir. Aliás, melhor seria assistir o evento numa fan fest, deixando todas as vaias, apupos e “fora, Temer” para quem lhe usurpou o poder.
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