Lara Brenner, Revista Bula
Comer nos faz viajar no tempo e no espaço. Toda infância tem um sabor
que, quando rememorado, nos leva de volta à casa em que crescemos ou
aos aposentos em que, escondido, a vovó dava biscoitos. Toda viagem
oferece alguma comida típica que nos acorrentará eternamente a momentos
de lembrança e euforia.
Pode observar. Os melhores negócios podem até ser assinados em
reuniões formais, mas são discutidos em torno de mesa farta. Nenhum
grande gestor pensa de estômago vazio. Se o fizer, desconfie. Gente que
não come direito não merece lá muita confiança!
“Em casa, todos os caminhos levam à cozinha”, disse sabiamente José
Alberto Braga. Não é por menos. A cozinha esconde a singularidades dos
temperos, a beleza dos alimentos e a poesia das bebidas. É lá que se
reúne a família, sempre de olho no fogão, enquanto ri das histórias
passadas ou planeja a próxima viagem. É lá que amantes fazem planos para
o futuro e trocadilhos maliciosos sedentos pelo aroma inebriante da
comida que virá…
As comidas dão nome a tudo, até às pessoas e seus atos. Tem gente que
é tão trouxa que é banana; outros, tão malandros que são laranja; tem
até mulher que se diz melancia, melão, maçã… Haja fruta para tanta
diversidade de gente!
A fome dos desfavorecidos nos apieda e une, enquanto a comida em
excesso nos conduz ao pecado capital. Há que se ter meio termo, mas como
obtê-lo diante desta variada motivação?
A comida está em cada capítulo importante da História. Foi pelo
tempero que se descobriu a América, foi pelo açúcar que se desencadeou a
migração forçada dos escravos africanos, foi em torno de uma mesa que
Cristo reuniu seus apóstolos para a mais famosa ceia cristã.
Não é por menos! Comer se estende a tudo, a todas as áreas da vida.
Devora-se livro, come-se alguém com os olhos, engole-se sapo,
embriaga-se de paisagem, saboreia-se viagem… Nós, glutões natos e
desesperados, mesmo sem saber, nos pomos a comer o tempo todo. Comer é
viver e come-se para viver (ou vice-versa?)!
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